quinta-feira, 13 de julho de 2023

HOMENAGEM DE SINCLAIR POZZA CASEMIRO A CARLOS RODRIGUES BRANDÃO



O Blog do Maybuk publica belo texto escrito pela ex-diretora da Fecilcam (atualmente Unespar campus de Campo Mourão-PR) para homenegear o grande professor Carlos Rodrigues Brandão (professor livre-docente da Unicamp) e que liderou um trabalho importante aqui em Campo Mourão em 1995.

Segue o texto.

In mmemoriam...

A 12 de julho de 2023 foi juntar-se às estrelas do céu, uma das estrelas da singular história da educação superior do Paraná. Assim, essa estrela e a educação superior do Paraná se juntam para lembrar a humanidade de que o tempo é o senhor da história, de que o tempo é real, é aqui e agora, mas é transcendente, é soberano e divino e que ela, a humanidade, como extensão desse tempo e da imensidão do universo, também o é. É tão só isso. E é, por isso, TUDO ISSO.

Carlos Rodrigues Brandão, nesse 12 de julho de 2023, se foi...sua alma repousa sobre uma história fantástica, plural, diversa e profundamente humana, que é a história da criação da Universidade Estadual do Paraná- a UNESPAR.

Carlos Rodrigues Brandão nessa despedida final faz brotar lágrimas. Lágrimas de luto por  uma perda incomensurável, amiga, acalentadora, acolhedora, amorosa, maternal, paternal e amiga...quantos qualificativos mais? Todos eles, nascidos do coração e da mente, da gratidão sem medidas daqueles que contaram com ele no momento único de uma aventura do conhecimento e da educação que se chama, hoje, Unespar. Eu sei disso, eu sinto isso. Nascidos do amor e da gratidão. Professor Carlos Brandão, querido amigo, querido Mestre, querido farol de tantos sonhos e sabedoria, ciência, educação e cultura, Professor Carlos, receba-nos, receba nosso carinho sem tamanho, nosso abraço dolorido e ao mesmo tempo feliz pelo encontro magnífico com o senhor, com que a vida nos presentou nos idos da década daquele ano de 1995. Sob lágrimas escrevo. Elas banham meu coração, minha memória, meu reconhecimento, mas tenho absoluta certeza de que não apenas de meus olhos elas brotam. Brotam de todos os que sonhamos juntos, na década do ano de 1995, quando o conhecemos e o ouvimos, pela primeira vez.

Elas banham quando ouvem, entre outras, palavras assim:

“Globalizar implica em abertura, claro. Mas implica também em alteridade, consciência do valor do outro para o qual não se abre. Ou seja, globalizar implica em não-unificar concepções, interações e procedimentos. Em nome e por causa do direito à diferença, conforme salientou Adriano Ruiz, temos visto algumas posturas de resistência: há pessoas, grupos e até etnias inteiras resistindo à globalização tal como esta tem se mostrado. Há resistências, consideradas, muitas vezes, como mero “atraso”, àquele trator aplastante” denunciado pelo Arguello. No decorrer desta nossa conversa pretendo aprofundar um pouco isso: a valiosa e possível contribuição dos excluídos...não como “mercado consumidor” é claro. Mas, antes disso, aquele companheiro que pediu a palavra...” 1. Nogueira, Adriano (Org.) Ciência para quem? Formação científica para quê? Petrópolis, Editora Vozes, 2000,p.46.

Palavras ainda hoje tão cheias de sentido, querido Mestre! Elas nos acompanharão por todas as nossas vidas, são humanas. São atemporais e justas, são transcendentes.

Siga seu caminho, sua Missão. Fazemos parte dela e nos sentimos orgulhosos de termos sido seus educandos, como prefere que nos consideremos, na prática libertadora de educação que pregou por uma vida inteira aqui entre nós. Prática da verdadeira liberdade, que respeita a si mesmo e ao outro, prática da alteridade genuína. Que respeita e que, portanto, por respeito mútuo, não agride o espaço do outro com palavras e/ou com práticas invasivas, desumanas.

Nos idos 1995, surgida de um sonho coletivo na gloriosa FECILCAM, a semente de Universidade Regional para a COMCAM é replantada com muitas mãos, dali, de seu interior, mas agora também de fora dela com toda a intensidade. Semeada tivera sido já por muitas mãos ali de dentro, mas um sonho majestoso e imenso, intenso como aquele não caberia mesmo ali. E em 1995 consolida-se um trabalho de muitas mãos, que se verá real na fundação da hoje Unespar, tempos depois, numa primeira etapa que se faz já consolidada. Uma etapa que nascera na gênese da instituição, quando se criou a Fundação Municipal de Ensino Superior de Campo Mourão, a  Facilcam, depois, Fecilcam, agora Unespar. Mas se trata de um sonho que jamais morrerá, pois assim acontece quando os sonhos merecem ser vividos, realizados. Eles florescem pelas sementes e cultivo bem feito pelas mãos de seus primeiros semeadores, mas nunca se fecham, as sementes são dadivosas, elas se propagam, perpetuam sempre também pelas mãos dos sonhadores herdeiros que fazem brotar para a eternidade a esperança plantada lá muito atrás. Começo que traz infinitos recomeços porque a vida é um eterno e saudável encontro, abençoada pelo poder universal do amor.

Em 1995 o novo começo venceu as resistências de seu tempo e convidou a história desse mesmo tempo a sonhar bem alto, a arregaçar as mangas, a acreditar no que se dizia e que fazia questão de se fazer, de fato impossível. E rompeu  fronteiras. Deram-se as mãos, os herdeiros intransigentes desse tempo. E o sonho recomeçou.

O sonho atingiu como protagonistas os professores e funcionários da Fecilcam. Como parceiros, instituições de além dela, como o Poder Público Municipal de Campo Mourão (Executivo e Legislativo) com toda a sua estrutura de funcionários, Secretarias, Fundações. Também o Cefet. Também a Associação Paranaense das Faculdades Isoladas. E como parceiros acadêmicos, pois o sonho exigia constructo acadêmico e científico de artilharia pesada, atingiu os núcleos Nupélia (da Uem) e o NIMEC, da Unicamp. Essa força rompeu as barreiras do Conselho Estadual de Educação do Paraná, cuja maioria quase absoluta negava às Faculdades Isoladas a condição de se estruturarem a caminho de Universidade, atingiu órgãos de fomento e pesquisa, como  CNPq e CAPES, atingiu finalmente o MEC. Hoje, tantas outras batalhas aparentemente invencíveis, foram vencidas. E o sonho continua pela união das outrora Faculdades Isoladas e outras instituições, na jovem e promissora Unespar.  Assim o sonho continua a fazer brotar a esperança nas vidas que pupulam para eternamente congraçar o amor por meio da ciência, da pesquisa , extensão, da cultura universal e diversa. Amor à Humanidade e mutuamente ao outro –outro que conosco vive nosso momento- todo o meio ambiente e o Universo que nós, como Humanidade, alcançamos conscientemente por meio da ciência e da cultura.

Obrigada, Mestre Professor Doutor Carlos Rodrigues Brandão! Leva consigo esse sentimento sem limites de reconhecimento e eterna lembrança!

Sinclair Pozza Casemiro

Maringá, 13 de julho de 2025.


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