Alguém pode questionar o que ter a ver a Campanha da Fraternidade 2009 da Igreja católica, com os estudos da economia. Eu na condição de professor de economia posso atestar que há muita ligação, aliás, sempre digo aos meus alunos que os economistas podem e devem opinar sobre a maioria dos assuntos da sociedade.
Procurei na internet e encontrei o texto base da Campanha da Fraternidade de 2009 e verifiquei que tem 176 páginas e é um texto muito bem fundamentado e quem puder deve ler com atenção.
O tema é: Fraternidade e Segurança Pública e o lema é: A paz é fruto da justiça (Is 32, 17)
Dentre os vários objetivos específicos separei dois:
- Denunciar a gravidade dos crimes contra a ética, a economia e as gestões públicas, assim como a injustiça presente nos institutos da prisão especial, do foro privilegiado e da imunidade parlamentar para crimes comuns.
- Favorecer a criação e articulação de redes sociais populares e de políticas públicas com vistas à superação da violência e de suas causas e à difusão da cultura da paz.
Separei também uma pequena parte do capítulo 10 - violência, corrupção e injustiça social:
"Uma grave fonte de conflitos é a injustiça social, que tem forte incidência no Brasil e manifesta-se de diferentes formas como a concentração de renda, a não satisfação das necessidades básicas de grande parte da população e o processo cada vez mais crescente de exclusão social, cada dia com novos desdobramentos"
Com referência ao primeiro objetivo citado, vejo que no país há muitos crimes sendo cometidos com dinheiro público e para se cobrir os "rombos", grande parte da população é sacrificada com serviços públicos de péssima qualidade. Os crimes cometidos contra a economia do país, por meio de financistas irresponsáveis, muitas vezes além de não serem punidos ainda provocam desempregos e prejuízos em cadeia da classe trabalhadora.
Com referência ao segundo objetivo citado, vejo que as redes sociais e as políticas públicas para as comunidades mais carentes são fundamentais. Sabe-se que a violência e o crime estão impregnados em todas as classes sociais, mas as mais abastadas cometem crimes e por terem grandes recursos financeiros contratam bons advogados e ficam livres das prisões, enquanto os pobres roubam uma galinha e ficam mofando na cadeia.
Com referência ao texto do capítulo 10, concordo plenamente que a concentração de renda no Brasil é o maior problema que temos, e vem desde as Capitanias Hereditárias. Pesquisas científicas comprovaram que nos últimos anos graças as políticas sociais do Governo Federal, houve uma pequena desconcentração de renda e uma diminuição da pobreza, mas nosso país ainda é um dos mais desiguais do mundo.
O tema má distribuição de renda foi o título da minha monografia de conclusão do Curso de Economia em 1994 - "A pobreza e a distribuição de renda no Brasil".
Penso que quase toda a violência cometida no Brasil está ligada a questões econômicas.
Algumas pessoas cometem crimes porque não tem o mínimo de sobrevivência;
Algumas pessoas movidas pelo marketing querem ter um padrão de vida além de suas capacidades e entram no mundo do crime para alcançar tal padrão;
Algumas pessoas que são viciadas em drogas, roubam objetos começando da própria casa para pagar aos traficantes;
Algumas pessoas cometem crimes por inveja de quem tem muito, ou porque são humilhadas por quem tem muito; ou até mesmo para conquistar alguém.
Penso que nós economistas formados numa ciência que erroneamente é chamada de técnica, mas que está nas ciências sociais aplicadas, e principalmente os alunos deste Curso, devemos debater o tema da violência e independente da religião que sigamos, devemos também aproveitar o importante trabalho que a CNBB está fazendo na Campanha da Fraternidade de 2009 e conscientizar-nos do papel de todos na busca de uma sociedade melhor.