segunda-feira, 31 de outubro de 2022

DEFINIÇÕES ÚTEIS E NECESSÁRIAS - ESCRITO POR CLEUSA PIOVESAN

 O Blog do Maybuk sempre que possível, abre espaço para bons textos de escritores/as. Mais uma vez uma publicação na íntegra de um texto da escritora Cleusa Piovesan, grande escritora.   

 

DEFINIÇÕES ÚTEIS E NECESSÁRIAS

Por Cleusa Piovesan

 

Essa é uma mensagem de revolta! Não porque meu candidato venceu ou perdeu, pois o que estava "em jogo" nas urnas não eram dois homens, eram duas ideologias, dois sistemas de "governar" não de governo (um para as elites; outro para o povo) e o "sistema de governo" que há no Brasil é o presidencialista, o que prevê que o vencedor nas urnas, pelo voto popular, assume o cargo mor por quatro anos, ou seja, o derrotado tem de aceitar a vontade da maioria e resignar-se, assim como quem votou nele tem de respeitar que a opinião da maioria prevaleceu, independentemente de sua aprovação!

Essa eleição de 2022 só estampou para o mundo que somos uma nação dividida! E minha alma agoniza ao ver o quanto o ser humano pode distorcer a realidade e criar seus próprios conceitos, sem levar em consideração que há um "contrato social", como constatou Jean-Jacques Rousseau (1762), "um acordo entre indivíduos para se criar uma sociedade, e só então um Estado, isto é, o contrato é um pacto de associação, e não de submissão", para que o bom convívio se instaure e vivamos em harmonia.

As manifestações de quem não manteve seu "mito" no pedestal de barro – que ele mesmo erigiu –, fizeram-me refletir o quanto um mau exemplo arrasta, confirmando o adágio popular "as palavras convencem; os (bons e maus) exemplos, arrastam". E que não há, por parte de muitos "cidadãos de bem", a menor noção da definição desses termos a que estou dando destaque!

DEMOCRACIA (substantivo feminino)

POLÍTICA (CIÊNCIA POLÍTICA•IDEOLOGIA)

• 1. governo em que o povo exerce a soberania.

• 2. sistema político em que os cidadãos elegem os seus dirigentes por meio de eleições periódicas.

CIDADANIA (substantivo feminino)

• 1. qualidade ou condição de cidadão.

• 2. JURÍDICO (TERMO) – condição de pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar da vida política.

Xenofobia (substantivo feminino)

• desconfiança, temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio daquele que as ajuíza, ou pelo que é incomum ou vem de fora do país; xenofobismo.

Há quatro anos, não vi ninguém badernando porque o Fernando Haddad perdeu a eleição para o Bolsonaro. Agora, fechar rodovias é protesto? Sim. Protesto de quem não sabe "perder", protesto de quem tem “políticos de estimação”, protesto de que não sabe o significado de democracia e nem de cidadania e de muitos outros termos que constam no "contrato social", mas num país em que tão poucos têm o hábito da leitura, os filósofos e sociólogos só são conhecidos por quem os estuda nas universidades.

Eu estou "em luto" por saber que o abandono da Educação serviu para transformar uma nação em franco progresso, e com possibilidade de acesso a todos em uma universidade, em uma nação dividida e xenofóbica. E estou constantemente "em luta", porque no meu dicionário "militar" é verbo, não substantivo! Impera em mim o desejo de ver a igualdade social e a verdadeira democracia!

Se ao Luiz Inácio Lula da Silva foi permitido, pela justiça, concorrer ao pleito, significa que ele, de acordo com a legislação brasileira, tem esse direito –  cumprindo a pena que lhe foi estipulada –, assim como o cidadão, extremamente cristão, que ficou quatro anos no comando da nação, com inúmeras denúncias de corrupção, 51 imóveis comprados em cash (alguns vão achar que é uma boa ideia), e que em 30 anos de exercício em cargos públicos pouco fez pela população, e ainda a incitou o povo ao negacionismo, à misoginia, à homofobia, à xenofobia, ao uso de armas. Não vejo nada de positivo nisso! Lula "roubou" os cofres públicos? Sim, mas não roubou o "ser humano" que há em cada indivíduo, sua essência humana, mesmo preso, deu-lhe a esperança de um país mais justo e igualitário.

Quem acha que na decisão desse pleito "perdeu", concordo! Perdeu a noção do que significa humanidade e alteridade!

HUMANIDADE (substantivo feminino)

• 1. conjunto de características específicas à natureza humana. "a animalidade e a humanidade residem igualmente no homem"

• 2. sentimento de bondade, benevolência, em relação aos semelhantes, ou de compaixão, piedade, em relação aos desfavorecidos.

 

ALTERIDADE (substantivo feminino)

• 1. natureza ou condição do que é outro, do que é distinto.

• 2. FILOSOFIA – situação, estado ou qualidade que se constitui através de relações de contraste, distinção, diferença.

* Relegada ao plano de realidade não essencial pela metafísica antiga, a alteridade adquire centralidade e relevância ontológica na filosofia moderna (hegelianismo) e esp. na contemporânea (pós-estruturalismo).

Talvez eu esteja aqui falando a "ouvidos moucos" porque a idolatria é um cancro instaurado na mente de quem não avalia a conjuntura em que os fatos e ações se situam e, julga por meio do senso comum, ou crê em fake news, deixa-se arrastar por opiniões alheias. Só espero que as pessoas entendam que as ideologias e idiossincrasias são individuais e têm de ser respeitadas, independentemente, de concordarmos com elas ou não.

IDOLATRIA (substantivo feminino)

1.    Ação de cultuar ídolos; o culto que se faz aos ídolos;

2.    FIGURADO – excesso de amor; admiração demonstra de maneira exagerada;

3.    RELIGIÃO – o culto das imagens e/ou das esculturas de santos.

Quando cair o “manto da invisibilidade” dos atos insanos de Jair Bolsonaro, o que se intitulou o novo “Messias” – comparação que deturpa tudo o que o verdadeiro Cristo pregou, toda essa “gente de bem” que o seguiu como ovelhas à beira do precipício, “caia na real” e perceba que “gente de bem” incita a paz e não a violência e a exclusão social.

Eu desejo, sinceramente, que o presidente Lula corresponda às expectativas do povo, mas que o povo entenda que não há um "Salvador da Pátria", que são ações conjuntas, de vencedores e de derrotados "nas urnas", juntamente com a administração pública idônea que podem salvar o Brasil, sem promover uma guerra civil. Como já disse Nelson Rodrigues “"nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem". Paz e bem a todos e todas!

        

domingo, 16 de outubro de 2022

CORDEL DO FAZENDEIRO MALVADO - PELA ESCRITORA SILVANIA M. COSTA



O Blog do Maybuk publica o lindo Cordel escrito pela professora, escritora, poetisa e cantora Silvania M. Costa.

Ela mora em Campo Mourão-PR. É nordestina e não tem nada de analfabeta como diz uma certa pessoa.   Aliás, talvez alguns/mas "sabidos/as" aqui do sul poderão não entender o que está escrito. 


CORDEL DO FAZENDEIRO MALVADO


Vou contar uma história

Que me dói no coração

Mas puxo pela memória

Pra contar com exatidão.


Existia um fazendeiro 

Que queria ser o maior

Em poder ser o primeiro

Entre os ruins ser o pior.


Para ser dono de um pasto

Não poupou enganação

E teve apoio no gasto

Em troca de ocupação.


Não faltava quem dissesse

Que ele era mesmo o tal

Ah, se a boiada soubesse

O quanto ia se dar mal!


Já na casa da fazenda

Foi mostrando quem mandava

Faria de si uma lenda

Ai de quem o contrariava!


Mandou fechar os currais

Bode e cabra, boi e vaca

Se algum pulasse a cerca

Entrava logo na faca.


Cada bicho na sua função

Sem preocupar-se com nada

Queimada era a solução

Mais pasto para a boiada.


Até que um dia acredite,

Chegou terrível doença

Enquanto ele dava palpite

Mais gerava desavença.


Os bichos estavam sofrendo

Assim o caos aumentava

Muitos foram morrendo

E ele nem se preocupava.


Mandou fazer um chazinho

Remédio pra verme era a cura,

Touro, vaca e bezerrinho,

Foram todos pra sepultura.


Veterinários lutaram

Para acabar com a chacina

Ao fazendeiro falaram

— Compre logo a vacina!


Do alto da intolerância

Tripudiou do conselho

Respondeu com arrogância:

— Não metam aqui seu bedelho!


Mas o tempo foi mostrando

A vitória dos vizinhos

Que estiveram bem tratando

Um por um dos seus bichinhos.


Tomaram todo o cuidado

E doente nenhum resta,

Rebanho inteiro curado

Participando de festa.


O mau fazendeiro, porém

Não se deu por vencido

Sem dar ouvido a ninguém

Teve seu fim merecido.


Perdeu todo seu poder

Pasto, casa, posto e gado

Condenaram-no a viver

Num chiqueiro abandonado.


Essa história que eu contei

Viralizou no mundo infindo

Quem não gostou do que falei

Melhor será “já ir” saindo!

(Silvania M. Costa)

sábado, 1 de outubro de 2022

CRONICANDO - ESCRITO POR CLEUSA PIOVESAN


 Hoje, 01 de outubro de 2022, o Blog do Maybuk publica o texto "CRONICANDO - escrito por Cleusa Piovesan


CRONICANDO

Por Cleusa Piovesan

Esquerda ou direita?

"Para quem não sabe aonde vai qualquer caminho serve", disse o Gato a Alice. São tantos os caminhos, são tantas as escolhas...

E Mário Sérgio Cortella nos põe em xeque: "você é livre em suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências"! A dúvida é: o que fazer?

A boa escolha só é possível se houver entendimento do contexto social em que os eventos ocorrem, mas quando o mundo não é um observatório de experiências e vivências (empíricas e científicas) a Terra volta a ser plana e desalinha a órbita dos planetas. Na filosofia do “deixa a vida me levar, vida leva eu...” muitas pessoas andam por aí, sem rumo, tornando-se alvo de quem manipula poder e informação, e o caos se instaura com facilidade se a alienação predomina.

Entre o céu e o inferno não há mais purgatório (decreto do Papa Bento XVI) e a passagem é só de ida. Arrependimentos não mudam o curso da história. Só resta o limbo mental aos que deixam o curso da vida correr como as águas do rio que avançam e arrastam tudo a sua volta, sem controle. O resultado? Depende das intempéries!

Somos seres mutantes e a mudança é o que há de mais permanente em nós. E também é necessária!  Quem não muda não evolui, não acompanha o tempo em que vive, e reproduz discursos ultrapassados e vazios. O sábio Heráclito de Éfeso já disse que "nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem”! Quem não evolui não contribui e fica à mercê das decisões alheias.

Só nos resta guiarmo-nos pelo bom senso e optarmos por valores que se encaixem em nossas ideologias, para tentar trilharmos o melhor caminho!