O Blog do Maybuk publica uma crônica
de seu editor professor Sérgio Luiz Maybuk.
O Leão, os pastéis e
as crianças
Ontem depois do segundo turno de
trabalho (quase sempre faço três turnos), cheguei na minha residência 17h30m. Troquei
a calça pela bermuda, peguei boné e calcei tênis e de posse dos documentos fui caminhando
até o escritório de contabilidade que fica na minha rua.
Comecei o trajeto meio
enfurecido, há muito tempo a tabela de imposto de renda não é corrigida de forma mais
justa, nesse ano uma pequena correção para a faixa mais baixa. Sou funcionário
público e o “Leão” morde diretamente na fonte antes de eu receber o salário. Todo
ano pago um valor significativo (daria ao menos uma viagem para Europa sem
fazer muita economia) e o que aumenta minha ira é que com toda a CERTEZA, há pessoas
que ganham dez vezes mais e possivelmente não paguem a metade do que eu pago.
Minha ira foi diminuindo ao
acompanhar no trajeto aquele pai esforçado e orgulhoso, correndo e acompanhando
o menino com a bicicletinha e capacete na cabeça. A criaturinha chegava na
esquina e aguardava instruções do pai. Eu já fiz isso com o menino que cresceu
e está com 26 anos.
Na volta do escritório, pela mesma
avenida Guilherme de Paula Xavier, percebi que já eram 18h e também meu horário
do café da tarde que pela minha idade já se constitui na janta. Me deu uma vontade danada de comer um sanduba
bem recheado de coisas calóricas e nada de encontrar uma lanchonete aberta e
com a chapa quente para a elaboração da guloseima.
Quando olho para uma rua travessa
vejo de longe algumas barracas de lona amarela. Pensei, tem jeito de Feirinha.
Enveredei para lá e aí tinha cheiro e som de feirinha e chegando lá descobri
que era a feirinha do Urupês e ocorre toda terça-feira.
A fome era grande e o cheiro do
pastel frito me conduziu até o caixa e pedi um pastel grande de carne, fritinho na hora e mais um suco de laranja
sem açúcar para a consciência pesar
menos (risos).
Sentei no banquinho e coloquei o
alimento saboroso na mesa vermelha de plástico. E aí o olhar e até os ouvidos
do pisciano ficam atentos aos acontecimentos. Na minha esquerda, um senhor
sozinho se atracou igual minha própria pessoa, naquele pastel com suco de
laranja. O som da feirinha informava sobre o que encontrar entre as barracas,
opções para todos os gostos.
Nessa altura mandei a consciência para as “cucuias” e me atraquei com o segundo pastel embora o copo de suco estava
bem administrado. Na minha frente dançando toda animada uma menina quase
adolescente, senta com o pai e começou altos papos com ele e já saboreando o
pastel acompanhado de um caldo de cana que veio de outra barraca e tudo certo.
Pela rua em frente às barracas
uma coisinha mais linda do mundo, toda vestida de lilás naquele carrinho também
de cor lilás, olhando com a maior expressão para os visitantes da feirinha,
como se fosse uma miss desfilando numa passarela.
E na feirinha se falava que tem pão
caseiro, tapioca, coxinhas, doces, artesanato etc e etc. E eis que passa por
mim a querida colega de trabalho professora Cláudia com sua filhinha linda
chamada Estela de cinco anos, toda saltitante e faceira.
Hoje conversei no trabalho com
a referida professora e soube que a feirinha já está incorporada na filhinha, assim como possivelmente outras crianças que ali frequentam. A Estela gosta das
guloseimas da feirinha e até já escolhe algumas peças de artesanato para
presentear as amiguinhas da escola.
A modernidade que sempre fica
mais moderna produz supermercados, shopping center, comércio eletrônico e há
uma gama enorme de opções gastronômicas disponíveis, mas as feirinhas estão
sempre por aí e normalmente se instalam cada dia num bairro. Elas sustentam famílias, distribuem renda, animam
os bairros, proporcionam prazeres gastronômicos, propiciam encontros de
amigos e familiares com boa prosa e dependendo podem até inspirar alguma crônica
por aí.