No dia 22 de janeiro de 2018, iniciamos uma viagem rumo à Porto Alegre-Rs com a finalidade de participarmos do evento Defesa da Democracia e o Direito de Lula Ser Candidato, organizado pela Frente Brasil Popular. Voltamos no dia 25 de janeiro. Ontem escrevi umas breves palavras aqui no Blog e hoje faço uma matéria mais completa incluindo as fotos.
Foram 23 horas de ida e 22 horas de volta.
No nosso ônibus tínhamos companheiros e companheiras de algumas cidades de acordo com a rota de viagem. De Araruna, Antonio, José, Paulo e Valmir. De Campo Mourão, Adalio, Aline, Anderson, Caio, Edir, Izaira, Gilberto, Maria de Fátima (duas), Mario, Neumora, Nivalda e Sérgio. De Cianorte, Carolina, Celio, Domingos, Francine, Francisca, João, João Paulo, José, Lenilda, Lucia, Lucivania, Marcos e Miriam. De Curitiba, Eduardo, Junior, Luciana, Roberto, Stela e Vanderleia. De Guarapuava, Luiz e Sandra. De Peabiru, Carlos, Márcio, Maria e Sirlei. De Paranavaí, João e Vanderley.
Na ida gastamos uma hora a mais por causa da barreira da polícia rodoviária federal muito bem armada, que verificou os documentos de todos, mas que foram gentis conosco. Tivemos um relato em vídeo, de que um ônibus que levava só mulheres foi abordado pela polícia e além dos documentos abriram todas as bagagens. Uma atitude que deixou as passageiras muito revoltadas.
Quando chegamos, fomos direto o Anfiteatro Por do Sol, um local com uma grande área de gramado e com árvores , mas que estava com a grama muito alta. Exceto alguns companheiros que foram para hotéis, o restante do grupo ficou alojado no local para dormir em barracas. Chegamos as 14 horas e as 16 iríamos para a grande marcha e foi necessário muita solidariedade do grupo com ajuda mútua na montagem nas barracas. Ingenuamente, procuramos concentrar as barracas próximas aos postes de luz do local e só ao voltarmos da marcha à noite, chegamos a conclusão de que o prefeito Nelson Marchezan Junior do PSDB, que teve a atitude patética de pedir ajuda do exército brasileiro para defender a cidade dos "criminosos militantes" e que é parceiro do MBL, mandou cortar a luz do local, pois moradores da cidade nos disseram que lá sempre está iluminado durante as noites. Vejam a discrepância, por um lado gastaram uma fortuna para proteger os três desembargadores e negaram duas noites de energia elétrica para os manifestantes. Graças a alguns vendedores ambulantes que utilizaram-se de geradores de energia ao lado do alojamento, pudemos ter umas poucas luzes que nos iluminaram.
No mesmo dia, por incrível que pareça, faltou luz na assembleia legislativa no momento em que a ex-presidenta Dilma estava em evento com outras bravas mulheres da política e de movimentos sociais.
Sofremos um pouco pelo desconforto, mas foi boa a experiência de sentir como é a vida dura de muitos brasileiros e brasileiras, especialmente dos/as companheiros e companheiras do MST que vivem assim quase todo o tempo na luta pela terra. Por outro lado, quem prestou atenção percebeu que a organização, disciplina e a solidariedade estavam presentes naquele meio. Não existe aquela história de marcar uma reunião ou evento para as 8 e começar as 9h30 como nós estamos acostumados a presenciar no nosso cotidiano . Não existe o tal de cortar fila, não tem ninguém melhor que ninguém. Em determinado momento havia uma fila enorme para escovar os dentes e outra para tomar banho e havia um moço com uma firmeza ,comandando para que não se perdesse tempo, pois tinha horário para começar a manifestação e era um tal de "companheiro tem uma torneira livre ali aberta ali, vamos rápido" e não havia muito tempo para pensar na vida enquanto se fazia a higiene bucal rsrs. Tinha equipe de limpeza, de segurança e até na marcha teve regras para andar em fila por questão de segurança e visibilidade. Dormir até mais tarde foi quase impossível, pois as 7 da manhã já havia um companheiro ao microfone chamando todos para o ato do dia e soltando música para animar.
Na marcha do primeiro dia, à medida que se ia avançando pelas avenidas, percebia-se a quantidade de gente. Além do nosso acampamento, praticamente todos os hotéis foram ocupados e teve muita moradia solidária em que porto-alegrenses receberam manifestantes do Brasil todo. No final do ato foram estimados em 70 mil pessoas, número que por incrível que pareça, até a globo divulgou. Era tanta gente que dependendo de onde você estava, não poderia mexer os braços, o meu caso por exemplo, que nem pude aplaudir as belas falas que se revezavam no palco pois não havia espaço para se movimentar.
É necessário salientar que a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul, ao menos enquanto estivemos por lá, garantiu nossa integridade física e não vimos praticamente nada de provocações . Ao contrário, como já destaquei em matéria anterior a receptividade do povo gaúcho ao manifesto foi excelente, inclusive de senhoras bem idosas do alto dos prédios acenando positivamente para os manifestantes. Foi uma emoção que jamais será esquecida.
No dia 23 véspera do "julgamento teatro" era impressionante a quantidade de apoiadores do ex-presidente Lula, entre deputados e deputadas estaduais, federais, senadores e senadoras e até governadores de Estado, além de ex-parlamentares e ex-governadores do Brasil inteiro. Tinha representante de praticamente todos os Estados. A organização apresentou um a um e rapidamente iam deixando o palco porque não havia espaço para todos. No primeiro dia, só permaneceram no palco membros históricos da esquerda brasileira e senadores e senadoras, presidentes de partidos e candidatos à presidência da república que inclusive tiveram a oportunidade de falar. Estava lá no palco quietinho e depois foi reverenciado pelo público, o grande escritor Raduan Nassar que foi premiado várias vezes e que milhões de escritores de facebook de leitura rasa não têm a menor noção de quem seja. É ele que denunciou o golpe no Brasil em fevereiro de 2017 no seu discurso, ao receber o importantíssimo prêmio Camões e foi hostilizado pelo medíocre então Ministro da Cultura Roberto Freire do PPS. Ele também doou um terreno para a construção de uma universidade federal em São Paulo. Tivemos a oportunidade de ouvir algumas músicas do grande cantor e compositor, altamente politizado Chico Cesar. Também ouvimos uma música com a cantora e compositora Ana Cañas (que cantou no Rock in Rio com o boné do MST) com sua voz divina, "cantar a cappella" em homenagem ao Lula, a música "O bêbado e o equilibrista" (hino do fim da ditadura militar) que fez muita gente chorar naquele dia 23 de janeiro.
Estavam apoiando o movimento além do PT, o PCdoB, PSB, PDT, PCO.
Não lembro de todas as falas porque foram muitos pronunciamentos de apoio, mas é necessário destacar as falas dos ex-governadores do Rio Grande do Sul Tarso Genro e o querído Olívio Dutra, os senadores Lindbergh Farias do PT do Rio de Janeiro, Roberto Requião do PMDB da Paraná, a senadora Lídice da Matta do PSB da Bahia, o senador João Capiberibe do PSB do Amapá, os pré-candidatos à presidência da república Manuela D'Avila pelo PCdoB, Guilherme Boulos pelo PSOL, O coordenador Movimento Sem Terras o economista João Pedro Stédile (para mim a melhor intervenção entre os apoiadores), a presidenta do PT Gleisi Hoffmann ,ex-presidenta Dilma Rousseff que estava muito bem e foi ovacionada. E registro aqui que o candidato a presidência que poderia estar lá e perdeu uma boa oportunidade foi Ciro Gomes do PDT (partido apoiador).
A fala do ex-presidente Lula, como sempre foi muito boa. Ele é inteligente, simpático, sabe se comunicar com o povo como ninguém e que naturalmente destacou sua inocência no processo que estava sendo julgado, afirmando o que a maioria do povo brasileiro sabe, que é um julgamento político e fez todo um relato do que construiu no seu governo e que está diariamente sendo destruído pelo mandante usurpador atual. De Porto Alegre, foi para São Paulo onde fez discurso após o "teatro julgamento"
No outro dia, toda aquela militância ficou em vigília bem próximo ao TRF4. E durante todo o dia passaram pelo palco vários deputados e senadores de várias partes do país e até parlamentares de outros países, com destaque para as deputadas Jandira Feghali do PCdoB e Benedita da Silva do PT, ambas do Rio de Janeiro, Maria do Rosário do PT do Rio Grande do Sul. Estavam por lá nossos deputados federais paranaenses Zeca Dirceu e Enio Verri do PT e o nosso deputado estadual professor Lemos do PT.
Quanto ao resultado julgamento em si é um jogo de cartas marcadas. Um processo político para impedir o Lula de ser candidato. No Brasil e no mundo já se percebeu isso pela maioria das pessoas. Como afirmei em matéria anterior, é um processo sem crime e evidentemente sem provas. Baseado única e exclusivamente no depoimento de um delator que fala qualquer coisa para diminuir praticamente toda a pena e curtir a vida com os bolsos cheios de dinheiro aos olhos da "justiça" que infelizmente parte dela, tem lado. A pena em primeira instância foi propositalmente estipulada em 9 anos para tentar ridicularizar o ex-presidente pelo dedo que perdeu quando era metalúrgico e na segunda instância um absurdo total, passaram o julgamento na frente de outros 7, marcaram a data para o dia em que completaria um ano do AVC da dona Mariza e para completar o teatro os três desembargadores , que segundo Roberto Requião (julgam a "corrupção" mas ganham acima do teto constitucional) aplicaram exatamente a mesma pena. O que faz alguém pensar, que seriedade tem um tribunal em que os juízes não analisam o processo individualmente e combinam o julgamento? O que podemos pensar da afirmação de um deles, de que o Lula não recebeu dinheiro mas fez lavagem de dinheiro (tal frase faria qualquer jurista sério ruborizar de vergonha). A farsa é tão grande que até o jornalista que odeia o PT, Reinaldo Azevedo, escreveu artigo criticando o Moro e os desembargadores em que eles transformaram a tal "Teoria do domínio do fato" na versão verde-amarela "Teoria do domínio da Fábula", para condenar o Lula sem provas e tirá-lo do processo eleitoral.
No mais, eu preciso ressaltar a ótima companhia de todo o pessoal do ônibus. Se não tiver bom humor e colaboração ninguém aguenta mais de 40 horas de viagem. Pessoal animado, politizado e companheiro. É necessário destacar o trabalho da comandante da viagem Nivalda do sindicato dos bancários que teve a dura missão de substituir a Nice que não pode viajar e do Mario presidente do PT de Campo Mourão, que também estava na organização e por coincidência fez aniversário no dia 25 e os dois motoristas (Fabiano e Ezequiel) que nos guiaram com competência e foram muito agradáveis. Para descontrair teve músicas, piadas, criatividade nas histórias inventadas na hora e até diversão com o aperto que todos passaram na "lata de sardinha" que virou aquela rua de tanta gente que havia por lá. As fotos da publicação foram gentilmente cedidas por companheiros e companheiras de viagem e que servirá para lembrança nossa e que talvez tenhamos daqui alguns anos um período bem melhor do que a era TEMERária em que estamos enfrentando.