O ano de 1968 foi considerado mágico por
alguns e o ano que não terminou por outros. Teve a guerra do Vietnã, morte do
famoso astronauta Yuri Gagarin, assassinato de Martin Luther King, morte de
Assis Chateaubriand, Metalúrgicos de Contagem –Mg que entram em greve em plena ditadura militar,
lançamento da Tropicália no Brasil, Revolução de maio de 68 com os estudantes
na França, primeiro transplante de coração no Brasil, passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro,
Associação Brasileira de Imprensa sofrendo atentado com bomba, Reunião
clandestina da UNE que teve 720 estudantes presos, casa de Dom Helder Câmara metralhada
no Recife, AI5 editado no Brasil e teve Beatles a voz da juventude na época.
Pois bem, no referido ano agitado, uma
senhora grávida lá de Roncador-Pr, esposa de um caminhoneiro que iria ficar
desempregado dias depois, vêm para Campo Mourã-Pr, porque na sua cidade não
havia hospital. E por intermédio da senhora Amélia de Almeida Hruschka (foi
vereadora e deputada estadual), no dia 22 de fevereiro deu a luz a um “polaquinho”
chamado Sérgio Luiz, portanto do signo de peixes, um pisciano. Depois dele o
casal Julio e Ines trouxe ao mundo Rose Mari nascida em Pitanga-Pr e Rosane
nascida em Roncador-Pr.
As más línguas dizem que há uma relação
entre um hospício (o mundo) e os signos, bem interessante. Tem os donos do hospício,
aqueles que mandam que são os signos de Leão e Capricórnio (minha noiva
Leda). Tem os coordenadores que são Touro e Virgem, os pacientes problemáticos
Gêmeos, Sagitário e Aquário, os pacientes
altamente perigosos Áries e Escorpião, e finalmente os psiquiatras do
hospício que são Câncer, Libra e Peixes. E assim a partir daquele nascimento
havia no mundo um futuro “psiquiatra” rsrs.
O menino nascido em Campo Mourão mas
criado em Roncador-Pr e que lá, pelos antigos é conhecido como “Tico”, teve uma
infância feliz, embora tendo algumas dificuldades. Nunca passou fome, mas teve
que comer pão com margarina no Colégio Nossa Senhora das Graças e sentindo o
cheiro daquele maravilhoso e cheiroso pão com mortadela (era chique na época)
dos alunos mais riquinhos. Comia paçoquinha e doce de abóbora no Bar do
falecido Pedro Mendes, mas ficava de olho naquele tal de prestígio e choquito,
coisas que a primeira TV em preto e branco usada, que seu pai adquiriu mostrava.
O menino também ficava radiante quando ganhava
roupas de segunda mão dos primos ricos. Também quando ia passear em Campo Mourão
e tomava iogurte e comia aqueles arrozinhos caramelizados. Mas também ficava
feliz quando na maior dificuldade, seu pai comprava uma roupa nova ou sua mãe
que era costureira fazia uma. O menino adorava estudar, um tanto pelo amor aos
estudos, mas outro tanto pela extrema timidez que obriga a criatura a se apegar
nos estudos. No verão era uma beleza, mas no inverno o “bicho” pegava e as
vezes era necessário colocar jornais dentro dos sapatos para aquecer os pés,
especialmente para pisar naquela camada de gelo para lá de grossa e os casacos
e toucas de lã que a Dona Inês fazia e ainda faz, salvavam a pele dele.
Naquela época no Colégio, era fila para rezar e fila para cantar o hino
nacional e de vez em quando outros hinos ainda. E há de se ressaltar que o
Colégio era particular, como o pai pagava não se sabe, porque as condições
financeiras eram difíceis.
O menino jogava bola, brincava de bets,
adorava andar pelas valetas cheias d’água nos dias de chuva naquelas ruas sem
asfalto, de vez em quando enterrava um prego ou caco de vidro naqueles pés descalços
e de noite após o banho de chuveiro de lata (com água fervendo misturada com
água fria), o negócio era escutar o barulho daquele botijão de gás alaranjado
que iluminava o ambiente e ouvir o programa de rádio gaúcho do Darci Fagundes.
O menino foi coroinha, queria ser padre,
mas depois se encantou com as quadrilhas (aquelas de festa junina), hoje nem se
pode citar esse palavrão, e viu que havia outras alternativas mais
interessantes que ser padre, embora a timidez fosse cruel. E assim o menino
venceu a primeira década de vida e no quarto ano primário no Colégio das
Freiras, teve um bom desempenho e lembra com carinho de vários e várias colegas
de sala de aula e a maioria está por aí e de duas professoras que lembra bem, a
Júlia Marioli e a Maria José, irmã da Rejane Bisol.
A segunda década do menino já o fez
perceber que o “jogo era bruto”. O tal do ginásio era mais difícil, tinha o
dobro de disciplinas, o colégio era público e começou a ter contatos com alunos
ainda mais pobrezinhos do que ele achava que era, a merenda oferecida sempre era uma benção. Teve vontade de ganhar dinheiro e catou
alumínio e fios de cobre nos terrenos baldios e a opção de venda era para o Seu
Belarmino, já falecido.
Depois ficou um ano vendendo sorvetes e
estava diminuindo a timidez. Comprou parte do material escolar com o dinheiro
ganho. Aos 13 anos, para superar a angústia de “ainda não estar trabalhando”,
foi contratado para trabalhar na Farmácia Nova do falecido Nathel Veiga. Por
causa dos plantões, domingo sim, domingo não, era mais difícil se divertir. Mas
ainda sim, além de trabalhar e estudar, o adolescente jogava bola, disputava
campeonatos em campinhos de terrenos vazios, jogava sinuca, baralho e
felizmente, naquele período, além da bebida (quase todos eram fisgados) e
cigarro (nunca fisgou o adolescente) outras coisas perigosas não estavam
disponíveis como hoje. Tinha as festas de igreja, as danças no Salão São
Nicolau, carnaval de bloco que a irmã dele participava e ele dançava sozinho.
Financeiramente a família tinha
dificuldades, nessa segunda década seus
pais mudaram de casa alugada mais de dez vezes, até enfim o pai construir uma
casa e mudar posteriormente em outras duas, mas todas próprias.
O final da década do adolescente foi
importante por ter conquistado uma vaga de quase um ano de trabalho de
estagiário no Banco do Brasil, na época que o gerente era o seu Luiz Gonçalves
(hoje aposentado em Londrina-Pr). O estágio foi importantíssimo porque lá,
especialmente pela insistência do gerente, o assunto estudar, ficou na cabeça
do adolescente/jovem e também abriu o
caminho profissional. No encerramento da segunda década já era funcionário da
COAMO, maior cooperativa agrícola da América Latina.
A terceira década do agora jovem teve um
início legal. Havia terminado o ensino médio, estava bem empregado, conheceu a
praia a primeira vez de excursão aos 21 anos. Aos 22 anos prestou vestibular
para ciências econômicas na então Fecilcam, hoje Unespar campus de Campo
Mourão, da última turma semestral. Acabou passando em décimo sétimo colocado.
Nem sabia quando as aulas começariam até saber pela matrícula que seria dali
uns quinze dias. Seu chefe imediato o falecido Juraci Correia, que era
economista disse que se ele quisesse fazer um bom curso, deveria saber que
seriam cinco anos sem aproveitar os domingos para lazer. Dito e feito. E é importante acrescentar que o jovem fez de ônibus, 200 km por dia durante quatro anos e meio para concluir o curso.
O ingresso no ensino superior foi
determinante para a vida pessoal e profissional do moço. Encontrou muitos
amigos, até aprendeu a dançar, arrastado por uma colega de sala, começou a
conhecer a fundo a realidade brasileira e a brutal concentração de renda e
riqueza, a tal ponto de no trabalho de conclusão de curso escrever uma
monografia intitulada “a pobreza e a distribuição de renda no Brasil. Logo que
terminou o curso, exatamente seis meses depois, abriu concurso para professor
efetivo e na época a exigência era só graduação e o moço conquistou a vaga e
tornou-se professor. Um ano depois,
talvez por falta de opção, foi escolhido como coordenador de curso depois teve mais quatro mandatos seguidos totalizando
dez anos.
No final da terceira década, não podia fechar com prêmio maior, pois aos 30 anos, fruto de um relacionamento
com a professora Rozenilda, ganhou seu maior tesouro o Giordano Bruno, outro
pisciano que está ao lado dele na primeira foto.
A quarta década do agora homem formado,
começou com a sequência dos mandatos de coordenador de curso, foram mais quatro
seguidos. Concluiu o curso de especialização em comércio exterior com ênfase em
MERCOSUL pela então Fecilcam , participou do Tribunal da Dívida Externa no Rio
de Janeiro, evento que reuniu pessoas do mundo todo. Foi um período dos
primeiros artigos científicos, das pesquisas de TIDE – Tempo Integral de
Dedicação Exclusiva, uma infinidade de participação em comissões e eventos,
participações externas em movimentos sociais, visitas a acampamentos de Sem
Terra, Romarias da Terra, viagens para Curitiba e outros Estados na condição de
coordenador de Curso, Coordenação do Núcleo de Pesquisas Econômicas – NEPE com
pesquisas mensais da Cesta Básica em Campo Mourão, tesoureiro da FHEPE –Fundação
Horácio Amaral sob a presidência do professor Agenor Krul falecido recentemente,
eventuais publicações de artigos no Jornal Tribuna do Interior (aquela época
única alternativa de escrever ao público), participações em viagens técnicas do
Curso de Ciências Econômicas em Curitiba, Paranaguá, São Paulo, Rio de Janeiro
e Brasília. Projetos socioeconômicos de cooperativas populares. A primeira
viagem de avião até Uberlândia-MG para apresentar trabalho científico. Participou
de Grupos de Pesquisa e claro teve a criação do Blog do Maybuk que ocorreu em
2008.
A quinta década do homem formado também
foi bastante intensa, além das
publicações normais acadêmicas, concluiu o mestrado em Desenvolvimento
Econômico pela UFPR, foi Secretário Geral no segundo mandato do diretor da
então Fecilcam professor Antonio Carlos Aleixo, participou ativamente de movimentos sociais,
sindicato dos professores universitários, do Partido dos Trabalhadores de Campo
Mourão-Pr, esteve três vezes na sala de reuniões do Governo do Paraná, em 2012 foi nomeado pelo governador Beto Richa
membro da Agenda do Trabalho Decente Paraná/OIT – Organização Internacional do
Trabalho, foi nomeado Auditor e Controlador da Unespar nos dois mandatos do
reitor professor Antonio Carlos Aleixo, publicou dois capítulos de livros e um livro de sua autoria. Recentemente se filiou a AME - Associação Mourãoense dos Escritores e participa de Saraus. Na vida pessoal, mantém um relacionamento há quase uma década com a
profissional da beleza Leda Mariza, e teve oportunidade de conhecer vários
Estados do Brasil a passeio e também para eventos acadêmicos. No exterior por
enquanto somente um pouco de Argentina e Paraguai, mas é possível que conheça mais
no futuro.
Quando o menino Sérgio Luiz Maybuk estava
para nascer, um anjinho enxerido deve ter falado para Deus, já que em 1968 vão
morrer pessoas ilustres tais como o autronauta Yuri Gagarin, Martin Luther King
e no Brasil um dos inventores da televisão Assis Chateaubriand e aqui do céu se
escuta o maravilhoso som dos Beatles, o senhor todo poderoso, poderia torná-lo
uma pessoa mundialmente famosa. E Deus na sua sabedoria disse ao anjo para não
se meter naquilo que não é de sua conta rsrs. O menino que agora completa 50
anos, não ficou uma pessoa mundialmente famosa, mas é inquieto, participou de
várias coisas e incomoda “prá caramba” com suas convicções e para algumas
pessoas é até acusado de neurótico. Mas como no terceiro parágrafo do texto,
afirmou-se que o mundo é um hospício e ele um dos psiquiatras dele, ninguém
pode reclamar rsrs.
Resta comemorar o Maybuk cinco ponto
zero.