Tive o prazer de ler uma bela monografia de conclusão de curso da área de ciências econômicas.
Ela ficou em primeiro lugar no Prêmio Paraná de Economia - Categoria "Economia Paranaense" promovido pelo Conselho Regional de Economia - CORECON, que em 2017 foi entregue no Teatro Municipal de Campo Mourão-Pr, na ocasião fiz matéria.
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É da Unioeste campus de Francisco Beltrão-Pr - Curso de Ciências Econômicas, intitulada " MST E IDEOLOGIA: A TEORIA E A PRÁTICA NO ASSENTAMENTO CELSO FURTADO, de autoria de Renata Cattelan e orientação do professor dr. Marcelo Lopes de Moraes e avaliada no curso pela banca examinadora, além do orientador, pela professora dra. Fernanda Mendes Bezerra e o professor dr. Jaime Antonio Stoffel.
A coordenadora de monografias citada no trabalho, para minha grata satisfação é uma ex-aluna nossa, cursou ciências econômicas no campus de Campo Mourão, a professora Edicleia Lopes da Cruz Souza.
Vou tecer alguns comentários sobre o belo trabalho acadêmico, preservando suas principais conclusões, porque me parece ainda não está disponibilizado para o público. Só tive acesso por email, porque conversei com a autora e o orientador no dia do evento e ela por me ver interessado no tema, enviou por email e disse que em breve terá um artigo publicado a partir da referida monografia. De início, sugiro ao dois que publiquem um livro pois o conteúdo é muito bom e pode servir para o debate sobre o MST, os acampamentos, assentamentos e a tão necessária reforma agrária.
A primeira consideração que penso ser necessária, foi a não discriminação do colegiado de ciências econômicas do referido campus, num tema envolvendo positivamente o MST e principalmente por não ter havido discriminação pelo CORECON. Isso mostra maturidade e pluralidade na divulgação e estudo das diversas linhas do conhecimento científico.
Na monografia, há uma constatação que a concentração de terras no Brasil ao longo de décadas, praticamente continua quase inalterada. Sou obrigado a fazer referência à minha própria monografia de conclusão de curso intitulada "A pobreza e distribuição de renda no Brasil" elaborada em 1994 e naquela época eu já abortava lastimável concentração de terras existentes no Brasil e que infelizmente pouco mudou de lá para cá.
A autora reconhece o MST como um dos maiores movimentos sociais do mundo.
A monografia tem na sua fundamentação teórica importantes autores. Vou citar todos para que o leitor e a leitora possam ter uma noção. Constam na bibliografia Althusser, L.; Altmann, W; Andrade, M.C.; Bacha, C.J.C.; Balsadi,O.V.; Battisti, E.; Caldart.R.S.; Campos, M.P.; Carvalho, H.M.; Chaui, M.; Coca. E.L.F.; Conte, A.; Costa, C.; Costa, F.A.; Dezemone, M.; Engelmann, S.I.; Engels, F.; Fachin, O.; Fernandes, B.M.; Fontes, V.; Frank, A.G.; Gohn, M.G.; Grisa, C.; Schneider, S.; Hourtart. F.; Lenin, V.; Maestra, M.; Magnoli, D.; Marx, K.; Mattei, L.; Mazoyer, M.; Mezzadri, F.P.; Morissawa, M.; Moura, C.; MST; Muller, C.C.; Neves, D.P.; Nunes, D.P.; Pegoraro, E.; Pessoa, J.M.; Pomar, W., Priori, A.;Pronko, M.; Prous, A.; Rodrigues, L.; Roos, D.; Roudart, L.; Rousseau, J.J.; Sabourin, E.; Silva, A.B.; Silva, J.G.; Souza, J.; Souza, N.A.; Stedile, J.P.; VATICANO; Welch, C.A.
A pesquisa de campo se dá no Assentamento Celso Furtado, localizado no município de Quedas do Iguaçú-Pr a amostra teve 43 famílias.
A autora destaca toda a história da criação do MST e para quem não sabe foi criada num evento em Cascavel-Pr.
A pesquisa trouxe dados do grande número de assentamentos na região de Guarapuava-Pr.
A pesquisa traz um comparativo de criação de assentamentos nos governos FHC, Lula e Dilma e mecanismos de apoio criado em tais governos.
O trabalho apresenta , embora em apenas dois momentos, problemas relacionados à discriminação do poder público municipal com assentados. Num caso, as estradas até chegar ao assentamento são quase primitivas, a autora não afirma, mas é bem possível que muitas vezes há descaso consciente em não arrumar estradas por discriminação e há uma afirmação que me deixou triste, em que um assentado denuncia que ao declarar que é assentado, não é atendido em determinada unidade de saúde. Se tal afirmação é realmente verdadeira, caracteriza-se como algo desumano e inadmissível.
O estudo apresenta uma importante constatação sobre a diferença de atitude dos acampados em relação aos assentados e com certeza, quem tiver posse do material para ler, especialmente quem é do MST e outros que estudam e pesquisam os acampamentos e assentamentos, ou mesmo, os que convivem com as pessoas que neles fazem parte, poderão refletir sobre a situação.
E finalmente aborda os problemas que os assentados enfrentam depois da conquista da terra, no que se refere a infraestrutura, moradia, crédito, apoio governamental, educação, saúde, necessidade de cooperativas etc.
A autora e o orientador estão de parabéns pelo prêmio recebido e por tratar com tanta propriedade de um tema tão delicado. Mais uma vez insisto que seria muito interessante a monografia tornar-se um livro. Iria ser uma grande contribuição para muita gente.