quarta-feira, 8 de maio de 2024

O LEÃO, OS PASTÉIS E AS CRIANÇAS

O Blog do Maybuk publica uma crônica de seu editor professor Sérgio Luiz Maybuk.

 

O Leão, os pastéis e as crianças

 

Ontem depois do segundo turno de trabalho (quase sempre faço três turnos), cheguei na minha residência 17h30m. Troquei a calça pela bermuda, peguei boné e calcei tênis e de posse dos documentos fui caminhando até o escritório de contabilidade que fica na minha rua.

 

Comecei o trajeto meio enfurecido, há muito tempo a tabela de imposto de renda não é corrigida de forma mais justa, nesse ano uma pequena correção para a faixa mais baixa. Sou funcionário público e o “Leão” morde diretamente na fonte antes de eu receber o salário. Todo ano pago um valor significativo (daria ao menos uma viagem para Europa sem fazer muita economia) e o que aumenta minha ira é que com toda a CERTEZA, há pessoas que ganham dez vezes mais e possivelmente não paguem a metade do que eu pago.

 

Minha ira foi diminuindo ao acompanhar no trajeto aquele pai esforçado e orgulhoso, correndo e acompanhando o menino com a bicicletinha e capacete na cabeça. A criaturinha chegava na esquina e aguardava instruções do pai. Eu já fiz isso com o menino que cresceu e está com 26 anos.

 

Na volta do escritório, pela mesma avenida Guilherme de Paula Xavier, percebi que já eram 18h e também meu horário do café da tarde que pela minha idade já se constitui na janta.  Me deu uma vontade danada de comer um sanduba bem recheado de coisas calóricas e nada de encontrar uma lanchonete aberta e com a chapa quente para a elaboração da guloseima.

 

Quando olho para uma rua travessa vejo de longe algumas barracas de lona amarela. Pensei, tem jeito de Feirinha. Enveredei para lá e aí tinha cheiro e som de feirinha e chegando lá descobri que era a feirinha do Urupês e ocorre toda terça-feira.

 

A fome era grande e o cheiro do pastel frito me conduziu até o caixa e pedi um pastel grande de carne,   fritinho na hora e mais um suco de laranja sem açúcar  para a consciência pesar menos (risos).

 

Sentei no banquinho e coloquei o alimento saboroso na mesa vermelha de plástico. E aí o olhar e até os ouvidos do pisciano ficam atentos aos acontecimentos. Na minha esquerda, um senhor sozinho se atracou igual minha própria pessoa, naquele pastel com suco de laranja. O som da feirinha informava sobre o que encontrar entre as barracas, opções para todos os gostos.

 

Nessa altura mandei a consciência para as “cucuias” e me atraquei com o segundo pastel embora o copo de suco estava bem administrado. Na minha frente dançando toda animada uma menina quase adolescente, senta com o pai e começou altos papos com ele e já saboreando o pastel acompanhado de um caldo de cana que veio de outra barraca e tudo certo.

 

Pela rua em frente às barracas uma coisinha mais linda do mundo, toda vestida de lilás naquele carrinho também de cor lilás, olhando com a maior expressão para os visitantes da feirinha, como se fosse uma miss desfilando numa passarela.

 

E na feirinha se falava que tem pão caseiro, tapioca, coxinhas, doces, artesanato etc e etc. E eis que passa por mim a querida colega de trabalho professora Cláudia com sua filhinha linda chamada Estela de cinco anos, toda saltitante e faceira.

 

Hoje conversei no trabalho com a referida professora e soube que a feirinha já está incorporada na filhinha, assim como possivelmente outras crianças que ali frequentam. A Estela gosta das guloseimas da feirinha e até já escolhe algumas peças de artesanato para presentear as amiguinhas da escola.

 

A modernidade que sempre fica mais moderna produz supermercados, shopping center, comércio eletrônico e há uma gama enorme de opções gastronômicas disponíveis, mas as feirinhas estão sempre por aí e normalmente se instalam cada dia num bairro. Elas  sustentam famílias, distribuem renda, animam os bairros, proporcionam prazeres gastronômicos, propiciam encontros de amigos e familiares com boa prosa e dependendo podem até inspirar alguma crônica por aí.    

 

      

 

      


3 comentários:

  1. Deu vontade de comer um pastel, lendo sua crônica, amigo! Está na hora de darmos tempo a nós mesmos para os pequenos prazeres da vida, sem regime nem censura. E resgatar coisas que a modernidade descarta. Amei sua crônica!

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  2. Parabéns amigo Maybuk! Adorei essa a cronica sobre a Feira. Considero que é a melhor, embora se repitam em outros bairros nos outros dias da semana. Penso que o local é bom e a comunidade já acostumou a prestigiar e apreciar as deliciosas comidas típicas.

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  3. Gosto muito destas feiras.

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