O
editor do Blog do Maybuk, professor Sérgio Luiz Maybuk, visitou a exposição do
artista Bernardo Matos na Sala de Exposições do Teatro Municipal e fez uma
matéria CLIQUE AQUI para ler.
Na
visita conheceu o Curador da exposição Fernando Leão, pegou contato e trocou
informações e verificando a empolgação e a paixão dele pela arte e
especialmente pelo trabalho do artista Bernardo Matos, fez uma proposta de fazer
uma entrevista em que foram enviadas as questões e a respostas chegaram com
várias fotos muitos interessantes.
Optou-se por colocar as fotos na publicação sem ordem de tempo até para dar uma sensação de vai e vem da história e até momentos de descontração do artista. Como destaques, há uma Foto da Montagem da Exposição Multiverso com a orientação do Artista e seu filho Ivens. Foto do Levantamento do conteúdo histórico da Exposição. Foto do Curador e o artista, mais jovens na Seleção da Exposição do Acervo particular que realizaram juntos em 2006 e Fotos da atualidade. E duas Fotos muito especiais, uma da visita de Elvo Benito Damo (na entrevista é possível saber sua importância) na véspera de Multiverso ainda na montagem e outra Foto de entrega de um exemplar da bra Xilográfico "Navio Negreiro " do Elvo para nossa cidade.
A seguir a entrevista que nos revela também um artista de grande importância, com vasta experiência, com prêmios recebidos e um detalhe a mais, ele tem muita sensibilidade, demonstra ser um poeta em grande parte das respostas aqui publicadas.
1) Comente
um pouco sobre você, escolaridade, onde nasceu, morou e aspectos profissionais.
E Quando e como foram os seus primeiros contatos com o Bernardo Matos?
Nasci nesta cidade no ano de 1972. Em 1980 conheci a Artista Plástica e Bailarina Srta. Marfísia Fernandes que aqui chegou no fim dos anos 70 e me ensinou os primeiros desenhos de observação, me ensinou a primeira e mais importante lição que todo artista deve ter, me ensinou a ‘Ver” as coisas, o mundo a minha volta, me mostrou a diferença das texturas das folhas, me ensinou a ler a natureza. Até então eu apenas enxergava as coisas como coisas... Marfísa tinha um estilo Impressionista cheio de cor e vibração e isso me encantou, o cheiro das tintas, do óleo de linhaça, o movimento das suas mãos preparando-as na paleta, aplicando na tela como uma se uma coreografia em “slow motion”... lembro das cores se transformando em outras cores quando se encontravam. Com ela tive as primeiras noções de cores e volumes e como compor o espaço, até então eu desenhava seres com arminhas de raio laser.
Dois anos depois conheci o Artista Plástico Joel C. Veiga que chegou nesta cidade e foi vizinho de cerca da casa de meus pais e ao ver meus desenhos me convidou para ajudá-lo com algumas artes para Campanha de Natal dos Supermercados Iguaçu e os painéis reproduzindo os cartazes dos filmes em exibição no antigo Cine Plaza. Com ele aprendi a ser objetivo, dinâmico, simples. Trabalhei muito com ele na comunicação visual quando ele se associou ao também Artista Plástico Renato Domanski e abriram na Rua Roberto Brezezinski, a Visual Publicidades.
Fazíamos serigrafia, pinturas e tudo mais que envolvesse Artes, o feitio de imagens e letras. O Renato fazia transcrição de plantas hidráulicas e elétricas em plantas de arquitetura, eram folhas de papel vegetal por vezes com até dois metros e eu me apaixonei pelos materiais, as canetas a nanquim, os gabaritos. Ele me ensinou o “traço do arquiteto” e me introduziu ao Surrealismo, estilo em que me encontro até hoje. Lá trabalhávamos o dia todo com arte comercial, desde a impressão dos pacotes de papel de compras dos supermercados, as Kombis de entrega até a decoração do Carnaval da cidade em 1984.
Foi quando conheci Bernardo por intermédio do Renato que foi até a Visual a pedido dele para nos ajudar a finalizar a decoração... Eu estava com 12 anos e ele gostou do enorme Arlequim que eu estava pintando e me convidou para ver os trabalhos dele no seu Atelier na Av. Capitão índio Bandeira, em frente a conhecida banca de revistas e jornais do seu Jonas. Eu fui fisgado por seus Aliens de espinhos e ossos, seu calhambeque que era sua mesa de centro e tudo lá era Poesia e Cor! Desse dia até hoje caminhamos como Irmãos de Armas!!! No início dos anos 90 fui para Curitiba e montei um Atelier de Esculturas Equestres junto com Rogério Pugsley. Ele me ensinou o realismo na madeira, vendíamos nossos trabalhos em pedra fundida na XV e no Largo da Ordem. Em Curitiba tive contato com obras e artistas dos quais Bernardo sempre me falou. Fui beber na fonte, fui visitar os lugares, museus, obras que ele me indicava e sempre que voltava visitar minha família vinha ver Bernardo e trocar figuras.
Retornei para Campo Mourão em meados de 1998 e aqui abri meu Atelier, depois de alguns anos uma escultura minha foi classificada em uma Seletiva de Artes para representar o Paraná no Circuito Internacional de Arte Brasileira que percorreria alguns países, dentre eles a Itália. No encerramento desse Circuito no MASP, eu fui agraciado com Menção Honrosa Internacional, prêmio que recebi em mãos do ex. Presidente Itamar Franco, na época recém saído da Presidência, havia assumido a Embaixada do Brasil na Itália. Com essa Menção o convite para participar do próximo Circuito que também me trouxe outra premiação...ao longo de alguns anos minhas obras chegaram a mais de 18 países, lugares aonde sequer um dia pude sonhar e com isso tive outras menções, medalhas de ouro, participações em Salões e Mostras aqui mesmo.
Algumas
dessas obras hoje estão acervadas pela Fundação Cultural de Campo Mourão,
outras foram acervadas em Embaixadas de outros países. Nesse mesmo período me
formei em Artes Visuais, fiz especializações em Arte Educação e Docência no
Ensino Superior, atuei nessas áreas de arquitetura, design de interiores,
publicidade, comunicação visual e afins.
Antes da pandemia trabalhei no departamento de Comunicação e Marketing
da Faculdade Unicampo. Após, decidi reabrir meu espaço de Artes que serviu de
base de apoio para a exposição. Algumas das obras de Bernardo foram para lá
para serem adequadas, pois estavam há alguns anos guardadas, algumas com 40
anos do seu feitio. As esculturas receberam acabamento em pátina e as bases
revitalizadas, as demais obras adequadas ao tamanho, um ou outro detalhe.
Bernardo acompanhou cada etapa desse processo de restauro, ele é muito
criterioso e apegado com suas obras.
2)Como foi
o processo de contatos, organização e convencimento que levaram até o dia da
abertura da exposição?
Desde
os primeiros contatos com a Equipe de Diretores da FUNDACAM, Silvio, Maurício e
do Secretário de Cultura Roberto, fomos acolhidos e ouvidos em todos os
detalhes. Adequação da Sala, da iluminação, dos expositores. As obras de
Bernardo não seguem um padrão, ele utiliza suportes e bases diferentes o que
exigiu muita flexibilidade e criatividade para dispor as obras como estão para
apreciação.
A
exposição MULTIVERSO não aconteceria sem a sensibilidade, dedicação e entrega
desses profissionais a quem dedico todo meu agradecimento e respeito!
Contribuíram para entregar ao público, uma das mais importantes Mostras de
Artes que nossa Cidade dispôs. Sabedores da importância e influência da Arte de
Bernardo, receberam esse conjunto de obras como uma Homenagem do Artista para a
cidade que escolheu para viver e que tanto o inspira. Sentimo-nos honrados com
essa atitude expor suas obras, algumas premiadas em tradicionais Salões de
Artes do nosso País e que são tão importantes na vida e na trajetória do
Artista. Fazer parte dessa história é motivo de honra, orgulho, muita emoção e
alegria para todos nós que estivemos direta ou indiretamente conectados a ela.
3)Qual será a dinâmica envolvendo estudantes a partir da exposição?
Professor
Sérgio, esta questão ainda estamos em tratativas. Certamente irá se realizar,
entretanto preferimos neste momento deixarmos para divulgar essa segunda etapa
tão logo o Centro de Criatividades Gurilândia adequar o espaço e estudarmos
junto com a Secretaria da Educação o ajuste no calendário, horário, deslocamentos,
autorizações dos pais, etc.. Temos ainda alguns detalhes para “alinhavar” mas
fica aqui meu compromisso de entregar-lhe em primeira mão todo esse contexto.
4)O que esse trabalho está te proporcionando enquanto pessoa?
Esse
é um momento único na história da nossa cidade. Nosso maior artista, maior
incentivador, o “Guardião das Artes”, premiadíssimo em vários Salões,
Coletivas, realiza a sua Primeira Exposição Individual após mais de 50 anos de
dedicação às práticas artísticas. Aceitar partilhar suas criações foi um grande
gesto de generosidade da parte dele, e a mim, coube a responsabilidade de fazer
a ponte entre o Artista e a Fundação Cultural. Obviamente isso me chega como um gesto de carinho. Me senti lisonjeado por ser escolhido por ele para
esse trâmite todo, sua confiança me encheu de orgulho mas também em posição de
grande responsabilidade. Entramos em contato com professores e amigos do Escola
de Música e Belas Artes do Paraná, pessoas que foram marcantes na sua
trajetória.
A
presença confirmada daquele que considera seu grande professor em escultura,
Elvo Benito Damo, Coordenador do Centro de Criatividades de Curitiba,
certamente a maior referência das Artes Escultóricas da América Latina, uma das
maiores do mundo em atividade deu a dimensão da força que o nome de Bernardo
Matos representa para as Artes do Brasil. Elvo prontamente atendeu nosso
convite, trocamos correspondências e fotos e relembramos as histórias contadas
pelo artista. Foi espetacular conversar com esse Maestro Escultor e sentir sua
energia, seu ânimo e que ainda generosamente aceitou trazer em doação para
Campo Mourão uma cópia da obra xilográfica “Navio Negreiro”.
Também
com o Artista Plástico Vilmar Lopes, considerado o maior amigo de Bernardo da
época de Faculdade. Vilmar trocava telas por discos de vinis da coleção do
Bernardo (essa coleção hoje está estimada em 12 mil discos). Reencontrar o
também Artista/fotógrafo/editor/coreógrafo, ufa... Fernando Nunes, que marcou
uma geração desta cidade com a Companhia Verve, a V8 Comunicação entre outras
atividades e que tanto contribuiu para que a Cultura da nossa cidade se
destacasse e alcançasse um nível de destaque e que hoje vive em Santa Catarina, veio prestigiar o
Multiverso de Bernardo, isso deixou o Artista muito emocionado dado o carinho e
admiração que têm por essa pessoas.
Essa
atmosfera criada em um evento desse porte, após mais de 10 anos com nossa Sala
de Exposição fechada, transformada em um depósito feria-nos na alma. Após uma
Pandemia que levou pessoas queridas da nossa sociedade e instaurou o medo e
angústia na humanidade, nesse momento tão duro para a humanidade, a Arte é
lembrada como se um “remédio” para suportar a incerteza da vida. Não bastasse,
ainda a ameaça de termos as Artes e a Filosofia descartadas da grade curricular
das Escolas...Então amigos, acreditem, foi muito bom reencontrar os Artistas da
nossa cidade, autoridades, escritores, músicos, comunidade, uníssonos nesse
levante e amigos que em outra época estavam em alta efervescência criativa.
Artistas atuantes em mostras, salões, discussões, Fóruns, como Alessandro Costa e o Eder Umbelino, também reencontrar o “Ceará”, o Professor Edvaldo, nosso “Pixote”, a Marcela Lauber, Semeire Vecchi, a Juliana Martini e ver todo o grupo de escultores artistas da Fundação Educere presentes, novos nomes que certamente serão inspirados por tudo isso, me emocionou de diferentes formas, foi uma viagem no tempo e a perspectiva de que a Arte em nossa Cidade retoma seu lugar de importância.
No evento ainda foi anunciada a abertura de inscrições para Projetos na área da Cultura (FEPAC) e foi declarado aberta as inscrições para o Salão de Arte Contemporânea de Campo Mourão. Todas essa ações merecem aplausos para a Administração Pública que reconhece o valor e importância da produção cultural, da formação de plateia, da preservação do patrimônio histórico, do fomento à Cultura, da sua responsabilidade na construção do ser através do saber, através de políticas culturais acessíveis a todos. Ser testemunha de toda esse energia se reconectando tocou meu coração. “Multiverso“ é a mola propulsora para que movimentos lindos nas áreas das Artes nos surpreendam e nos encantem ainda mais!
5)Quais seus contatos nas redes sociais e o que deseja dizer aos leitores do Blog do Maybuk?
Eu tenho
poucos contatos nas redes sociais, assim como Bernardo também sou da velha
guarda, pouco assíduo na Web, uso o elementar e isso é falho para dar a voz e o
alcance que essa exposição e a obra que esse Grande Mestre da Artes merece, que
todos merecem. Seria gratificante ver essa exposição alcançar a repercussão e
destaque em lugares distantes, “A Arte é para todos”! Se fala muito em
Metaverso, em realidades alternativas, mundo 3D. Nossos jovens conhecem artes,
esculturas pelas telas dos celulares, dos tablets. A realidade que eu gostaria
de apresentar a vocês é a de um Gênio que caminha entre nós, fazendo versos de
formas diferentes das palavras...leve passeia e recolhe os “pedaços” de nós e
os converte esteticamente em objetos originais, cheios de humor, movimento,
cor, ARTE!
Que você venha ver as esculturas combinadas com mármore e aço industrial que “arrepiou” a crítica de Artes do Estado nos anos 80, venha se surpreender com a semiótica que desfila lindamente cheia de graça e humor em toda sua obra, a linguagem única de Bernardo. Embarque nas naves ou em suas motos e calhambeques feitos de materiais improváveis e desate os nós da sua mente, mergulhe no onirismo de seus desenhos mas se proteja dos guerreiros de aço e aliens feitos de espinhos, pois eles podem te pegar pelos olhos e pelo coração.
Levem seus filhos, essa exposição foi pensada neles. Apresentem-lhes o que é possível criar quando se desenvolve a criatividade, o olhar. Que se pode construir coisas bonitas e alegres com materiais alternativos e de baixo ou nenhum custo. Novas soluções para problemas antigos podem ser desencadeadas por sua dinâmica. Incentivem seus filhos a criarem coisas originais, a criarem novos conhecimentos e não apenas a repeti-los. A humanidade tem feito isso e há muito tempo e está previsível, “morno”. Está bem chato mesmo pra falar a verdade! Vamos para outro patamar, não dá mais para permanecer fazendo mais do mesmo.
Incentivem seus filhos a criarem coisas novas, a Arte tem esse poder. Deixem que risquem nos sapatos, nas paredes, aonde for, desmontem e montem coisas. Coisas tem preço, talvez precisemos rever o que realmente tem valor. Respeitem os Artistas, metade deles é amor e a outra metade também! Elevem as Artes, elas são talvez, as únicas coisas que realmente ainda nos mostram que somos humanos. Que somos seres criadores. Somos capazes de criar um dia de amanhã melhor que hoje, de estampar sorrisos nos olhos da pessoas! Viva a Arte... A vida sem ela não basta”. O Multiverso de Bernardo Matos espera Você!!!
Maravilhosa essa conversa entre o professor Sergio Maybuk e Fernando Leão. Quero e vou ver a exposição do Bernardo Matos
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