O editor
do Blog do Maybuk, professor Sérgio Luiz Maybuk, visitou a Exposição Coletiva
SOMOS MUITAS, um evento muito interessante e de muita reflexão, no dia 30 de
julho de 2022, no Museu Histórico de Londrina/PR que é mantido pela UEL –
Universidade Estadual de Londrina.
Foram
expostas obras das artistas Cris Suiter, Marianne Lépine e Zucapaula, tendo
como Curadora Jô Vigoroto. Na abertura teve a presença da Diretora do Museu
Edméia Aparecida Ribeiro e também da Reitora Marta Fávaro. Todas as citadas fizeram falas importantes.
A
exposição contou o trabalho fundamental do expógrafo Amauri R. Silva Silva.
O motivo
inicial da ida de Campo Mourão-PR até Londrina-PR, foi o convite feito pela professora aposentada da
antiga Fecilcam e depois transferida para a UEL, Zueleide Casagrande de Paula
que agora também é artista com o nome de Zucapaula. Na delegação de Campo
Mourão-PR, também estavam as professoras Ana Paula Colavite, Aurea de Andrade
Viana de Andrade, Dalva Helena Medeiros acompanhada de Gerson Colluci Junior. Esperava-se manter o contato e matar saudades da antiga amiga, a surpresa foi
também conhecer as outras duas artistas e a Curadora, três mulheres
extraordinárias e de luta do mesmo valor da querida Zueleide.
Com
referência às obras das três artistas é muito difícil descrever o impacto que
elas causam a quem tem o contato. Cada pessoa reage de uma forma, porém é
inevitável que uma transformação aconteça no/a visitante.
A Cris
apresenta uma obra de fortíssimo impacto tanto nas imagens reproduzidas quantos
nas frases escritas ali que foram, são e infelizmente serão proferidas por
muito tempo ainda e que cravam na alma das pessoas, especialmente das mulheres,
na grande maioria das vezes por homens machistas.
A
Marianne sacode a cabeça dos/as visitantes iniciando com uma Ala apresentando
singelas mulheres, ou para ser mais preciso, pernas, sapatos, pés de mulheres e
um grande mistério, como seriam seus rostos, o que estariam fazendo,
conversando, tudo muito colorido e alegre. Depois na outra Ala, ao menos uma
parte, de um cinzento triste dos trabalhos cotidianos domésticos, que fazem
parte de uma jornada dupla ou tripla das mulheres que produzem para o sistema
capitalista ou autônomas e empreendedoras. Para outras ainda, (aquelas que NÃO SÃO produtivas) para o sistema, uma jornada
única, infindável, quase uma prisão, sem reconhecimento e sem pagamento.
A Zucapaula na sua sempre e profunda reflexão,
de pesquisadora enveredou na arte com um emaranhado de artérias de toda forma
possível e num colorido lindo que é ao mesmo tempo, lindo de se ver mas muito
impactante pela reação que provoca.
Na
sequência serão apresentadas algumas considerações importantíssimas da Curadora
e das próprias artistas.
Texto da
historiadora e Curadora Jô Vigorito (@jovigorito) que está exposto no Museu e
que foi gentilmente enviado ao Blog.
SOMOS
MUITAS
Refletir
sobre a importância da atuação da mulher como membro ativo na sociedade, com
papel potente na construção da vida cidadã e na produção de conhecimento é o
que move as artistas que fazem parte desta mostra. Elas não levantam bandeiras,
apresentam a sensibilidade, a curiosidade e o senso de justiça de três artistas
que enfrentam preconceitos e violências pelo simples fato de serem mulheres.
Nas artes
visuais as mulheres estão cada vez mais determinadas e talentosas. Elas merecem
lugar de destaque, pois fazem diferença e nos inspiram.
Na
exposição “Somos muitas” Cris, Marianne e Zucapaula nos apresentam uma arte
feminina, forte e consciente. Cientes que são do lugar importante que ocupam
enquanto artistas que pensam e agem na sociedade, capazes de influenciar
positivamente aqueles que se deixarem afetar por suas reflexões e produções artísticas.
Em suas
obras Cris Suiter dá visibilidade a naturalização de certos tipos de
preconceito que discriminam o corpo humano perante padrões socioculturais
ultrapassados e excludentes, a despeito da igualdade dos direitos fundamentais
quer regem a nossa sociedade.
Marianne
Lépine foca na atuação feminina na vida doméstica. Reflete sobre qual o motivo
da desvalorização do trabalho executado no lar? Uma gestão eficiente,
capacidade de resolução de problemas, raciocínio rápido e criativo não é o que
se exige dos profissionais de qualquer área?
Estas são as atividades que as mulheres ativas fazem em seus lares. Por
qual motivo trabalhar no lar ainda é considerado um trabalho menor?
Zucapaula
está sempre em busca de novas formas e materiais para expressar sua narrativa
poética. Sua linha de raciocínio geralmente complexa encontra na arte um campo
fecundo de possibilidades críticas-reflexivas. Assim como Cristiane e Marianne
ela pensa as relações humanas, mas seu foco é o urbano. A cidade que abriga a
complexa relação entre o individual e o coletivo na ocupação e construção dos
espaços transformados pelo convívio em lugar afetivo, território cidadão.
As
mulheres já conseguiram muitas conquistas no âmbito dos direitos, mas ainda há
muito a ser feito e cada espaço de reflexão é um ganho nesse processo. A arte
nos oportunizar de forma ímpar pensar criticamente e alterar o nosso entorno.
Texto
transcrito do áudio de Cris Suiter
(@cris.sutier) gentilmente enviado ao Blog.
A série
Invólucros foi desenvolvida a partir de uma pesquisa que mostrou o aumento da
percepção do preconceito entre os brasileiros na última década, discriminação
por causa da cor da pele, orientação sexual, etnia, idade, deficiência,
religião, gênero entre outros, apesar da legislação brasileira considerar crime
o ato discriminatório.
O nome foi escolhido para simbolizar nosso
corpo de uma maneira irônica mostrando que ele é visto apenas como invólucro
pelo preconceituoso. Além da discriminação visível, que se caracteriza pelo
ódio explícito, existe outra forma indireta que diz respeito a prática de atos
aparentemente neutros caracterizado por expressões ambivalentes de maneira mais
branda e as vezes imperceptível essa forma de preconceito tende a ser ainda
mais perigosa por ser de difícil percepção, trata-se de um conjunto de hábitos,
situações e falas embutido em nossos costumes e incorporados no nosso cotidiano
que promove a segregação.
Através da arte podemos despertar no público a
reflexão de que somos todos iguais independente do invólucro que carregamos.
Texto
transcrito a partir de áudios de Marianne Lépine (@marianne.lepine) gentilmente
enviados ao Blog.
Estou
participando dessa exposição SOMOS MUITAS com duas séries. A primeira série
chama-se MULHERES e outra série chama-se COTIDIANO.
Nessa
primeira série a mulher é a protagonista, mas eu também uso como desculpa para
pintar o fundo que usei bastante, eu coloco ela no centro para pintar o sofá,
as cortinas, porque eu queria usar bastante estampas, que eu gosto de trabalhar
com cores, então foi meio que uma intenção decorativa.
Ao mesmo
tempo, as mulheres têm um mistério em torno delas porque muitas vezes eu não
coloco rosto, porque eu acho que o rosto chama muito a atenção e desse jeito,
fica um mistério, porque a gente fica imaginando como elas são, o que estão
pensando, é como uma parte de uma cena que gente fica imaginando o resto da
história.
Dessa
série tem o quadro Kilim (tapete turco), que tem quatro mulheres sentadas e um
tapete bem colorido, com uma estampa bem particular, bem colorido bonito e tem
só as das pernas das mulheres sentadas, como fosse um sofá e a gente fica
imaginando o que tá acontecendo nessa cena, se elas estão reunidas na casa de
alguém, se é uma festa, uma reunião, o que elas estão conversando e parece ser
mulheres de uma época antiga também, é uma coisa meio misteriosa.
Na série
cotidiano, eu pintei coisas da minha vida doméstica, eu pinto de observação,
observando os meus objetos, as minhas plantas, os meus vasos, e a partir daí,
eu trouxe uma reflexão sobre as tarefas domésticas né, e aconteceu uma fase que
começou em 2020 no começo da pandemia, que eu fiquei em casa isolada, com a
minha filha, as escolas fecharam, então eu estava sobrecarregada, de tarefas
domésticas e aí eu pintei esse quadro que se chama PIA.
Esse
quadro, é uma pia, ele é todo de cores acizentadas e a única coisa mais
colorida que tem, é uma buchinha dessas bem comuns de lavar a louça, que é
verde e amarela e ele é muito diferente das coisas que eu costumo pintar, ele
tem tons de cinza, enquanto eu costumo pintar coisas muito coloridas, então é
assim mais triste e ele veio de um momento de exaustão mesmo. Com ele depois eu
pintei mais um pouco dessa série assim de coisas bem do lar, da lavanderia,
baldes e coisas assim e é para trazer uma reflexão sobre esse trabalho
doméstico, porque não é visto nunca que a gente, todas as mulheres, quase todas
as mulheres fazem esse trabalho principalmente as mães, mas não só as mães né,
fazem um trabalho silencioso todos os dias, cuidando dos filhos, cuidando da
casa, e que não é nem remunerado nem visto nem valorizado.
Texto da Zucapaula (@zucapaula_de) gentilmente
enviado ao Blog.
A linha
condutora de minha arte passa pelas imagens construídas a respeito da natureza
e do urbano a partir de uma pesquisa realizada durante longo período de estudo,
mas também considerando o que meus sentidos captaram e captam no processo de
estudo sobre os muitos espaços estudados, desde as florestas, pequenos e
grandes rios que considero como artérias da Terra aos espaços citadinos cuja
configuração possui artérias em sua feitura seja planejada, seja espontânea.
A ideia condutora, A poética envolve esses
estudos e a minha sensibilidade acerca dos meus sentidos enquanto usuária dessa
materialidade planetária. Considero que as artérias levam e trazem vida de um
lugar a outro. Os rios, as ruas, as alamedas, as avenidas são artérias, pois
levam vida de um lugar a outro. No caso das cidades os traçados planejados ou
não, também se fazem a partir das relações humanas, geográficas, topográficas,
de limites e perímetros que podem ser físicos, todos trazem vida pulsante.
Abordo o
que meus olhos captam da natureza e desse urbano em suas profundezas e
superfícies. Uso a intensidade da cor como um dos principais meios de
materializar as muitas expressões na construção da materialidade em meu fazer
artístico, sobretudo porque entendo que a constituição do humano brasileiro é
muito colorida, está na natureza da nossa flora e fauna e o urbano a traz por
inerência.
Foi muito interessante ler as manifestações das artistas, o que sentiam no momento da criação das obras. Foi muito interessante também ler as considerações da Curadora JôVigorito com seu experiente olhar para obras artísticas.
O Editor do Blog apresentou seu olhar e com certeza todos e todas que já visitaram e visitarão a exposição têm e terão um olhar particular e com certeza serão transformados e impactados pela arte de primeira, ali apresentada.
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