domingo, 20 de junho de 2021

UM NOVO OLHAR PARA OS COVEIROS

Observação: Texto produzido pelo editor do Blog do Maybuk com personagens muito próximos a ele.   

Impressionante o quanto estamos vivendo um momento muito triste.

Na sexta-feira recebi da companheira Maria Nysa M N que foi delegada da mulher em Campo Mourão, um texto maravilhoso que foi publicado na revista Piauí "HISTÓRIA DO COVEIRO FILÓSOFO".
Li e chorei com a história. Dentre tantos profissionais que estão sendo arrebentados emocionalmente com a pandemia do Brasil (agravada significaticamente pela ação deliberada e intencional do governo federal), os coveiros tem uma carga violenta em cima.
Equipes médicas sentem a dor de ver o último suspiro. Alguém dentre eles têm a difícil missão de comunicar à família e o coveiro é aquele que além de ver toda a dor acumulada da família e dos amigos inconsoláveis, ainda tem o papel de enterrar para sempre aquele ente querido.
No texto depoimento do coveiro Osmair Cândido, ele retrata a quantidade de trabalho que aumentou. As experiências dolorosas de tomar o caixão das mãos de uma mãe se despedindo de um filho ainda jovem e tantas outras.
Os quantos banhos a mais por dia, teve de tomar porque não tinha no começo e boa parte da pandemia equipamento de proteção e o medo de pegar a doença era imenso.
No texto ele deixa transparecer o quanto os coveiros são desconsiderados na sociedade. E se tiver nível superior será um espanto. Se for formado em filosofia a frase será "como assim?"
Imaginem a riqueza teórica e prática adquirida por esse graduado na mãe de todas as outras formações?Alguém que estuda profundamente nos bancos da universidade as questões da vida, da existência, a origem, a consciência, a dor, o orgulho etc ter o contato com o momento final diuturnamente.
No texto depoimento é possível encontrar a passagem de outro coveiro que ajudou financeiramente o colega a se formar, porque ficava feliz de ver ele falar bonito e ensino superior para este deveria ser algo tão distante, pois afinal ele era "apenas" um coveiro , ninguém liga.
No dia 07 de junho de 2021 estive no cemitério para me despedir do amigo Ironei de Oliveira e vi o serviço dos coveiros para mim foi natural. Um deles, inclusive atendeu um celular na hora e colocou o aparelho no bolso e fiquei pensando se ele iria desinfetá-lo quando chegasse em casa.
Hoje 20/06/2021 fui ao cemitério porque era aniversário de morte da Camila que morreu de acidente aos 29 anos e desde então passei a amar com mais pronfudidade meu filho Giordano Bruno . Se despedir de um/a filho/a com quem se conviveu desde a geração ou desde pequenininho/a deve ser uma dor inimaginável.
E hoje foi diferente a visita. Dos 500 mil mortos anunciados ontem, estavam registrados parte deles naquele cemitério pela quantidade escancarada de túmulos novos e vários deles com a coroas de flores ainda inteiras sobre eles.
A outra grande diferença foi imaginar o ato final e doloroso dos coveiros de Campo Mourão e o que cada ato deixou marcado na vida deles. E fiquei pensando se não há entre entre eles algum filósofo, geógrafo, economista, poeta, cantor, escritor ..., afinal são profissionais importantíssimos e apesar de trabalharem com a morte, têm vida, família, amores, alegrias, desejos, esperanças.

2 comentários:

  1. O filósofo que há em você é repleto de amor pelo outro. Me orgulho de vc, amigo.

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