sábado, 8 de fevereiro de 2020

A CENSURA EM RONDÔNIA E A SAUDADE DOS POLÍTICOS DE 1989

Estamos vivendo um momento de censura no país desde que o Bolsonaro assumiu o governo, foram várias ações covardes de perseguições contra artistas, intelectuais, pesquisadores, jornalistas. Isso infelizmente foi fazendo escola e tivemos nessa semana a ação de alguém do governo de Rondônia, com mesmo pensamento do governador coronel Marcos Rocha do PSL, de retirar livros de bibliotecas de alguns dos maiores escritores do Brasil, porque tinham “expressões inadequadas para crianças” e depois da repercussão negativa até da Academia Brasileira de Letras voltaram atrás.

Provavelmente que teve essa ideia de asno, não é capaz de produzir uma página de um escrito qualquer. Não tenho a menor dúvida, de que o estrago que está sendo feito às crianças e a geração futura com as ações do governo federal e de gente do mesmo naipe que pensa igual a ele, em alguns governos estaduais tipo esse de Rondônia, serão infinitamente maiores do que uma ou outra expressão “inadequada” que um certo Machado de Assis possa ter escrito.

Analisando o momento sombrio em que estamos vivendo no Brasil, resolvi assistir os memoráveis debates da eleição presidencial de 1989 que estão disponíveis no youtube. Me veio uma saudade danada daquele período em que estávamos nos livrando da horrorosa e criminosa ditadura militar.

Naquela época tínhamos candidatos de direita e esquerda concorrendo,  mas nenhum deles era tão medíocre intectualmente e politicamente, como o que temos hoje na presidência da república e em alguns cargos de Ministérios e de alguns governos estaduais e seus comandados , tipo esse de Rondônia.

Naquele debate, percebia-se conteúdo, capacidade de raciocínio, ironias, bom humor, nada do que se vê atualmente em falas no estilo robô e  carregadas de ódio e preconceitos mil.

É preciso fazer um registro na capacidade da jovem jornalista Marília Gabriela intermediando todas aquelas “feras” no primeiro debate presidencial no pós-ditatura criminosa.

Naquele debate, por coincidência também o eleito foi fujão e covarde (Fernando Collor) que não quis participar no primeiro turno, depois diminuiu a covardia e contou com a ajuda da Globo naquela edição vergonhosa e conseguiu se eleger e não terminou o mandato. 

Aqui no Brasil a tal facada e a tal cirurgia,  foi motivo da não participação de debates do candidato eleito , mas não impediu o mesmo de falar asneiras em eventos públicos e também nas inacreditáveis transmissões pela internet, que inacreditavelmente tem gente com estômago para assistir. Resultado, suas intenções não foram confrontadas à tempo cara a cara e hoje o Brasil paga muito caro por isso.

Naqueles debates tinha gente bem articulada na fala, mas que no futuro não lograram êxito politicamente tipo Guilherme Afif Domingos, Aureliano Chaves, Afonso Camargo Netto (paranaense) e Roberto Freire que começou na extrema esquerda pelo PCB e foi “endireitando e endireitando”, perdeu a essência e hoje é um homem público medíocre.  

Quanto a Paulo Maluf e Ronaldo Caiado, me embrulha o estômago suas posições políticas e ideológicas, mas é inegável a capacidade dos mesmos na oratória. O primeiro está em prisão domiciliar atualmente e sumiu do processo e o segundo ainda tem seus seguidores e é governador de Goiás.

Saudades mesmo, tenho do Mário Covas, homem público decente e elogiado até pelos opositores e do grande Leonel Brizola (meu primeiro voto para presidente da república), no segundo turno votei no Lula e de lá para cá sempre nele até o mesmo ser impedido de concorrer. 

O Brizola foi um dos maiores estadistas do país, acabou com o analfabetismo no Rio Grande do Sul quando governador  e conseguiu a façanha de se eleger governador em outro Estado, o Rio de Janeiro, com características totalmente diferentes do primeiro. Suas corajosas intervenções contra a globo eram memoráveis e aquele seu direito de resposta ganho, lido em rede nacional na voz maravilhosa do Cid Moreira, contra seu próprio patrão, foi memorável.

Sobre essa impensável conquista de direito de resposta, segundo o saudoso Paulo Henrique Amorim (que faz muita falta), no seu livro, o Quarto Poder, o bom e velho Brizola teria dito numa grande gargalhada “acertamos um tiro no cú do mosquito”. Em tempo de pessoas “puritanas” (ao menos no público porque no privado ...) publicar uma frase dessas é meio arriscada, mas penso que não sei condenado ao fogo do inferno por isso, rsrs.

Sobre o Collor fez aquele governo horroroso, sofreu o impeachment e por incrível que parece foi substituído por um político decente, o saudoso Itamar Franco. Mais tarde quando recuperou os direitos políticos se elegeu Senador e continua até hoje, mas sem nenhuma expressão nacional.

O outro era um jovem torneiro mecânico de apenas 44 anos, deputado federal na época. Luiz Inácio Lula da Silva. Disputou mais três eleições e se elegeu presidente da república, se reelegeu, terminou o mandato com 87% de aprovação, ganhou vários títulos de doutor honoris causa de várias universidades do Brasil e de outros países e em breve vai receber mais um prêmio pela prefeitura de Paris. Depois teve uma condenação sem provas, esta aí o Intercept para  mostrar o servicinho do Dallagnol e o ex-heroi nacional Moro.

Ficou preso mais de um ano, como estratégia do Moro (ganhou um Ministério por isso), para que não pudesse disputar a eleição presidencial. Saiu da cadeia mais forte do nunca, esbelto, sorridente, namorando, dando entrevistas em tudo quanto é canto e na semana que vem, se não derrubarem o avião, vai ser recebido pelo Papa Francisco.  

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