DE TERNO: RAINER NOLVAK (QUE LIMPOU A ESTÔNIA EM 1 DIA, MOBILIZANDO 40 MIL PESSOAS.
DE TÊNIS: TIÃO SANTOS (PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS CATADORES DO ATERRO METROPOLITANO DO JARDIM GRAMACHO - RJ (QUE FALOU SOBRE OS PROBLEMAS DA COLETA RECICLÁVEL NO BRASIL - CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: RIGOBERTA MENCHÚ TUM, LUCIAN TARNOWSKI, GOG, DÉBORA GARCIA, VINCENT DEFOURNY, GILBERTO PUIG MALDONADO, MONA DORF (MEDIADORA) - CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR
A nossa jornalista Larissa Menezes da Fecilcam participou de um evento importantíssimo no Rio de Janeiro - Rj e eu pedi a ela que escrevesse para o meu Blog a experiência.
Comunicação e Sustentabilidade nas mãos, e o sentimento de mudar o mundo
III Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade (http://comunicacaoesustentabilidade.com/2010/ ) – Rio de Janeiro
“O caos que vive a humanidade, o caos que vive a humanidade”. Esta frase foi usada com frequência pelos palestrantes do fórum. Falando assim, em humanidade, a coisa nos parece distante. Na cidade grande esse caos é mais visível, as favelas são maiores, tem mais gente dormindo na rua. Nossa realidade, Campo Mourão, mesmo que deficitária, mesmo com uma desigualdade social gritante, é mais amena. Somos menores, porém, ainda demasiadamente necessitados das mudanças que foram propostas no fórum, então, fica aqui a minha colaboração, a pedido do professor Maybuk, de dois dias de intensa disseminação e absorção de conhecimento. Rabiscos de ideias e vontades que devem ser divulgadas:
“Existem dois tipos de negócios: o de ganhar dinheiro e o de mudar o mundo” - Muhammad Yunus
Muhammad Yunus é homem pelo qual me apaixonei, tanto pela sua simplicidade quanto pela sua genialidade. Yunus é o cara. Ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2006, ele é o idealizador do Banco dos Pobres, é um dos protagonistas na luta para erradicar a pobreza no mundo, por meio do micro-crédito – termo que ele próprio inventou. Ele encanta, porque tem uma visão e uma prática socialmente responsável acerca do mercado empresarial.
Seu banco empresta dinheiro sem juros. “Se você pega 10 meus, você me devolve os mesmos 10”, afirmou. O Banco dos Pobres não exige garantias legais, não aceita empréstimos de governos, os clientes são visitados em suas casas. É propriedade do povo. A população de Bangladesh é o exemplo dos bons resultados. Yunus comentou que muitas crianças de famílias pobres conseguiram chegar à universidade através do micro-crédito, ele também garante que várias comunidades miseráveis conseguiram sustentabilidade através do banco.
Perguntado sobre o programa bolsa família, Muhammad disse que “é bom, mas é preciso dar condições aos que integram o programa”. Ele sugere que o bolsa família seja transformado em empreendedorismo social.
“Existem dois tipos de negócios: o de ganhar dinheiro e o de mudar o mundo”, salienta, afirmando que num futuro próximo haverá uma espécie de museu da pobreza, onde levaremos nossos filhos para mostrar o que é a pobreza, pois até lá ela estará erradicada. A ideia de Yunus é brilhante, e pelo que parece sua aplicação também. Seus conceitos ainda são poucos divulgados, conheci um acadêmico de economia da Unioeste que está produzindo um TCC acerca do tema, sobre empresas sociais, um dos poucos estudos, se não for o único na área, no Brasil.
“Será que a comunicação vai continuar sendo entendida por pessoas que têm mais de 1500 palavras em seu dialeto?” - GOG
Também, o rapper GOG me chamou a atenção. Desconhecia-o. Altamente perspicaz, GOG é da periferia do Distrito Federal, segundo o próprio, é “fruto de uma diáspora africana”. “Será que a comunicação vai continuar sendo entendida por pessoas que têm mais de 1500 palavras em seu dialeto?”, indagou em defesa de uma comunicação mais universal, menos elitista. Em poucas palavras, o rapper que também é poeta, puxou a orelha dos comunicadores sociais que estavam no fórum, defendo a propagação de mais informação e menos notícia.
“Como é possível alguém pegar o diploma, colocar na moldura e sair analfabeto ambiental?” – André Trigueiro
O jornalista André Trigueiro, da Globo News, fez bonito. Abordou o termo sustentabilidade, apontando soluções práticas para o lixo brasileiro, bem como sua termologia. “O Brasil se encontra na pré-história dos resíduos sólidos”, afirmou, explicando que faltam projetos, políticas públicas que deem conta do lixo das cidades de forma que cause menos impacto ambiental.
O jornalista criticou a vulgarização do termo sustentabilidade. “Os colegas publicitários brincam com a palavra sustentável, essa palavra merece respeito, seriedade”, destaca, citando exemplos como o Banco Bradesco, BNDS, Petrobras, Vale, entre outros, que “tiram casquinha do termo sustentabilidade para se afirmar num mundo que descobriu no termo sustentabilidade um valor”, mas que na prática acabam não sendo nada sustentáveis. “Então, um banco se diz sustentável, uma universidade se diz sustentável”, ironiza a banalização da palavra.
Sobre a comunicação, André acredita na informação que transforma e nos seus agentes: jornalista, comunicadores, professores, que devem apontar rumos, perspectivas, incentivar a “pegada ecológica”. “Este assunto é abordado perifericamente nas universidades. Como é possível alguém pegar o diploma, colocar na moldura e sair analfabeto ambiental?”.
Acerca da econômica e sustentabilidade ele atenta para os prejuízos de um crescimento econômico desenfreado que não combina com um desenvolvimento sustentável. Lembrou da China que resolveu desacelerar seu crescimento, porque a longo prazo o prejuízo ambiental seria gigante. Também concordou que o consumo demasiado prejudica o meio ambiente.
“O Banco Mundial estima que 20% da humanidade consuma aproximadamente 80% dos recursos, portanto os grandes problemas ambientais da atualidade estão vinculados a padrões de consumo insustentáveis concentrados no hemisfério norte e em ilhas de prosperidade, como Leblon”, alertou, fazendo referência ao bairro mais rico do Rio de Janeiro.
“Eu acredito que ter sustentabilidade, auto-gestão, é fazer do seu meio algo não exploratório. Você pode fazer uma coisa com dignidade” - Ferréz
A questão da desigualdade social também dominou o discurso do escritor e rapper Ferréz. Morador do Capão Redondo, periferia de São Paulo, Ferréz fundou a 1DASUL (nome vem da idéia de todos sermos 1, na mesma luta, no mesmo ideal, por isso somos todos 1 pela dignidade das periferias), uma marca própria do bairro produzida pelos moradores do Capão. A marca, que fabrica desde roupas até chaveiros, hoje, é “uma resposta do Capão Redondo e outras áreas para toda violência que nele é creditada, fazendo os moradores terem orgulho de onde moram e lutarem para um lugar melhor, com menos violência e mais esperança”.
Gozador, Ferréz contou que nunca entendeu o ritmo da favela. “Eu nunca entendi porque que o cara comprava sunga, se não tinha praia. ‘Olha esse shorts aqui, seca em duas horas’”, brinca, afirmando que o pessoal comprava produtos caríssimos por causa de uma determinada marca, mesmo que nunca usassem tal produto, mesmo sem utilidade nenhuma. Foi aí que ele resolveu estudar as marcas.
Observou a maneira como os produtos das grandes marcas eram feitos, sem grandes tecnologias ou maiores empreendimentos, e através da exploração. “A marca que você usa tumultua, ela agride, ela decepa, ela mata”, ressaltou. “Você saber a procedência de tudo que você usa também é compromisso, é compromisso social e com você mesmo”. Então resolveu criar uma marca para o Capão. “Eu acredito que ter sustentabilidade, auto-gestão, é fazer do seu meio algo não exploratório. Você pode fazer uma coisa com dignidade”, frisou.
Ferréz relata que o menino periferia paga caro na camiseta que a mãe dele costura no barracão da favela só porque tem a logo da marca X. Paga pelo preço da marca, o preço da ‘inserção social’, já que para eles esses produtos ‘abrem portas’.
“Eu entendo o cara da comunidade, porque o cara quer ser alguém melhor. Ele vê todo dia na televisão loiro, olho azul, cabelo alisado, padrão europeu. ‘Pô eu quero ser isso’. Daí ele chega perguntando como que ele faz para alisar o cabelo, para ter olho azul. ‘Você é preto cara’, eu digo. Então o cara só se sente feliz com um tênis de R$500,00”.
“O pobre tem autoestima baixa, não tem ninguém mais que odeia o pobre que o próprio pobre”, explicou. Ainda, sobre as etiquetas que enlouquecem os jovens, Ferréz falou que o brasileiro tem nojo do que é brasileiro e contou que a 1DASUL demorou para dar certo, principalmente porque os moradores do Capão Redondo tinham vergonha de serem de onde eram, da periferia. “Um povo sem identidade é um povo morto, um povo cadáver”, declarou.
Ferréz também falou sobre a editora independente que montou para vender livros mais baratos. Ele conta que não adianta fazer palestra na Feben e depois oferecer um livro de R$ 40,00. “Isso é um tiro intelectual na cara dos caras”, destacou. “A gente quer popularizar a literatura. Quer que a nossa obra seja como tubaína tuti-fruti, como o refrigerante Dolly, que todo mundo pode tomar. A gente quer prostituir a porra, prostituir tudo para que você tenha acesso”, finalizou.
Eu poderia relatar mais, e enumerar mais projetos, mais ideias, mais ações, mas ficaria cansativo. Para aqueles que se interessaram entrem no site http://comunicacaoesustentabilidade.com/2010/palestrantes. Acredito que os assuntos tratados sejam altamente relevantes aos professores e estudantes da Fecilcam, que podem reverter tais ideias em práticas, seja em pesquisa ou extensão. A comunidade em geral também deve estar atenta aos temas, principalmente na hora de votar, preocupar-se com as propostas políticas que vão ser expostas neste ano, ano eleitoral.
Professor Maybuk, o fórum foi simplesmente incrível. O teor e a consistência das discussões fizeram com que a gente pudesse abrir ainda mais a mente, porque percebemos que sustentabilidade não é algo relacionado apenas ao meio ambiente. Está em tudo. Inclusive na formação da nossa sociedade, nos nossos hábitos culturais. Não somos sustentáveis porque acreditávamos, há anos, que o Brasil ia ser a terra do infinito, o país do futuro. Que nada aqui ia acabar. Mas estamos findando tudo e discussões como a desse fórum nos mostra que, sim, ainda há solução. Não é fácil, não é para a nossa geração, mas uma atitude precisa ser tomada. Adorei a oportunidade e a possibilidade de divulgar tudo isso aqui. Parabéns pela iniciativa.
ResponderExcluirParabéns pela participação em um evento de grande porte como esse. Concordo que a maioria dos jornalistas saem da universidade com pouca ou nenhuma bagagem sobre a questão ambiental e até mesmo as tão faladas sustentabilidade e responsabilidade social. Banalizar termos complexos como esses certamente é um erro.
ResponderExcluirImportante também ouvir pessoas oriundas da periferia e que de alguma forma obtiveram sucesso na vida, relatando seus feitos e comprovando que é possível sim ser e fazer o bem, não importando o ambiente em que vive.
E precisamos de mais pessoas que queiram mudar o mundo, e menos daqueles que norteiam suas ações baseados no dinheiro.
deve ter sido uma experiência linda!
ResponderExcluiré sempre bom participar desses eventos!
Parabéns pela participação num evento de tamanha relevãncia. Não é mais possível o mundo pensar em desenvolvimento, progresso e mesmo distribuição de riquezas, sem antes pensar em equilibrio ambiental e responsabilidade.
ResponderExcluirObrigado por compartilharem o encontro conosco
Sem duvida a participacao neste evento foi de suma importancia, nos mostra a realidade atual. Todos almejamos um país desenvolvido, mas esquecemos os danos e prejuizos, por isso que Sustentabilidade e auto-gestao devem caminhar juntas, buscando maior envolvimento e participação dos individuos na construção de suas proprias condições de vida.
ResponderExcluirObrigada
Parabens!!!