Respondendo a sua indagação e a possível vantagem que a China possui por ser milenar, penso que é necessário aqui fazer uma observação no que se refere à cultura desse país e o que esta contribuiu para o avanço dessa nação na nossa era. É evidente que a China por ser milenar sempre foi grande e conquistou muito espaço, as pesquisas apontam que ela inventou a bússola, a pólvora, o papel, uma forma de impressão, o ábaco, o correio e até o dinheiro na forma moeda e papel. É rica em tradições e é sabido que o povo oriental é rico em persistência naquilo que acredita, e com aquela imensa população cresce a passos largos também como potência econômica mundial na atualidade, mas somente porque aceitou parte das regras do sistema capitalista.
Crescimento econômico é diferente de desenvolvimento econômico. Este segundo é o primeiro acrescido da melhoria em todos os aspectos da grande parcela de uma população. Apenas crescer por crescer pode não ser o ideal. Eu sonho com um desenvolvimento do Brasil, mas quero um que seja diferente da forma como a China está fazendo. Para contribuir com minha argumentação vou exemplificar o desenvolvimento dos três países mais desenvolvidos que temos na atualidade.
As grandes potências da atualidade Estados Unidos da América, Japão e Alemanha se enveredaram no sistema capitalista para crescer. E há diferenças nestes três desenvolvimentos.Os Estados Unidos da América com apenas 232 anos de independência, é o mais liberal e sempre seguiu a cartilha de Adam Smith da “Riqueza das Nações” que prima pelo aumento constante da produtividade e do maior espaço do comércio internacional. Não se pode negar o empreendedorismo e o nacionalismo (todo filme norte-americano aparece sua bandeira ) deste país, mas não se pode negar que ele também é produtor de guerras para obter o que quer e não tem escrúpulos para impedir qualquer país que ameace sua hegemonia e não respeita o meio ambiente (vide tratado de Kyoto). O Japão se fechou depois da segunda guerra mundial, investiu maciçamente em educação, sem perder suas tradições e ingressou no mercado mundial, mas tem sérias limitações de espaço. A Alemanha também foi reconstruída depois da guerra e investiu muito em educação e primou pela social-democracia, num capitalismo menos desigual.
Brasil e China são países emergentes. O Brasil tem um PIB bem menor no momento que a China, mas voltou a crescer depois de muito tempo e de forma sustentada agora. O Brasil tem um IDH melhor que o da China demonstrando que na distribuição do país a vida da maioria da população é melhor. Aumentando a renda como está e distribuindo melhor, a tendência é que melhore o IDH ainda mais. Quando eu comecei a fazer o curso de economia se dizia que todo progresso gera destruição, atualmente a regra é produzir sem o menor impacto possível no meio-ambiente. Penso que o Brasil poderá ser uma grande potência de forma equilibrada.
A China está tendo um crescimento econômico extraordinário, mas o Brasil, também teve crescimento assim na época do chamado milagre econômico (embora com concentração) e foi um dos maiores do mundo. Saímos de uma população de maioria rural e nos tornamos um país urbano. Desenvolvemos nosso parque industrial, elevamos o nível educacional da grande maioria da população, mas não desenvolvemos por causa da concentração de renda, temos uma das piores distribuições de renda do mundo, mas atualmente estamos revertendo esse processo. No nosso país existe democracia, existe preocupação com o meio ambiente com uma legislação das melhores do mundo, existe liberdade de expressão e qualquer pessoa de qualquer nacionalidade do mundo convive aqui com tranqüilidade. Acabei de ler um fato desagradável na China em que um repórter estrangeiro apanhou e foi preso porque estava filmando um protesto e já é o segundo caso e poucos dias de olimpíada.
Seremos sem dúvida, um exemplo de desenvolvimento sustentável, porque temos a Amazônia, seremos o maior produtor do mundo de bio-combustível, somos auto-suficientes em petróleo, seremos a maior potência na produção de alimentos e estamos nos desenvolvendo em todas as áreas, principalmente na pesquisa universitária, que no momento em que for aplicada de maneira adequada na sociedade, em parcerias com empresários sérios e criativos que no Brasil existem muitos, será uma revolução. Aliás, duvido que exista no mundo um povo e um empresariado mais criativo que o nosso.
Sou totalmente favorável à educação para todos, mas uma educação plural, respeitando a rica diversidade deste país, onde cada Estado tem suas características tão singulares. A cultura de cada brasileiro a meu ver é uma fonte econômica e social extraordinária. É preciso também diminuir a corrupção que é grande e é bom lembrar: cortar fila, subornar guarda e não devolver troco errado também é corrupção. Os nossos representantes políticos não são extra-terrestres saíram do nosso meio, o escritor João Ubaldo disse certa vez que o problema do Brasil é a matéria-prima (o povo com seus vícios). Mas fundamentalmente penso que a dívida social para com boa parte dos brasileiros tem que ser paga e isso inclui educação máxima, mas também direito ao mínimo necessário para sobreviver e isto está acontecendo. Betinho dizia que às vezes antes de aprender a pescar, a pessoa tem de ter comida e força para segurar a vara. Temos hoje uma população que estava à margem da vida econômica e que hoje tem mais dignidade e participa de maneira ativa do processo de riqueza do país.
A China por sua vez, só está crescendo, porque ingressou no sistema capitalista, porém sem o menor respeito com o meio ambiente. Basta ver o dilema das pessoas nos Jogos Olímpicos, o Brasil apesar da poluição que tem não chega aos “pés” da China nesse quesito. Outro aspecto é que na China existe ainda uma população muito grande na zona rural. As condições de trabalho tanto na zona rural quanto na zona urbana são degradantes para boa parte da população e a renda da maioria dos trabalhadores é muito baixa. Há repressão de toda a espécie e para nós brasileiros que nos livramos da ditadura militar isso é inconcebível. O trato com a mulher naquele país é algo sem comentários. A falta de liberdade política também.
Eu sou um economista de esquerda. Penso que o sistema capitalista da forma como é gerido na maioria dos países e principalmente na China é um absurdo. Acredito numa economia em que haja distribuição de renda decente, com liberdade de imprensa, democracia, respeito ao meio ambiente e que se possa ter avanços nas Instituições para uma sociedade desenvolvida e justa. Isso parece ser utopia de Thomas Morus, mas eu acredito nisso. Para isso estudei economia e é essa minha luta.
Olá Maybuk...
ResponderExcluirNão sou economista e também não sou de esquerda, mas concordo em grande parte com sua análise.
Penso que deva existir uma forma consistente de desenvolvimento (e não apenas crescimento)econômico que possa sustentar e dar condições de vida digna às pessoas - que devem ser o fim de todas as ações, mas que na maioria dos casos infelizmente não são.
E parabéns pela clareza e lógica na construção do texto, está muito esclarecedor.
Abraços.
Professor Maybuk, sou sua aluna e gostaria de agradecer seu trabalho neste blog. Para nos "trabalhadores-alunos" que pertencemos a um sistema de educação que apesar da melhora ainda apresenta falhas e, de não termos de “berço” o habito da leitura, ao chegarmos ao ensino superior percebemos o quanto deixamos de aprender e o quanto somos culpados por isto.
ResponderExcluirHoje percebo a importância de estarmos sempre buscando o conhecimento. Suas matérias contribuem muito para nossa formação, apesar de querer, quase não tenho tempo para me manter informada sobre o que está acontecendo no Brasil e do mundo.
Faço este comentário nessa matéria porque ela apresenta com clareza informações que ainda não tinha. Obrigada.