O editor do Blog
do Maybuk, professor Sérgio Luiz Maybuk faz um relato na publicação de hoje:
No 31 de maio
2025 e infelizmente não pude comparecer, aconteceu na Câmara Municipal a posse
de três novas imortais na Academia Mourãoense de Letras. Haline Nogueira que
não conheço, Mariângela Pellizzer é colega de AME Associação Mourãoense de
Escritores, da qual estou na vice-presidência, e já publiquei matéria por aqui
de um livro da nova imortal e finalmente Regiane Timóteo das Neves Baldi, a
qual conversei rapidamente algumas vezes e sobre ela em seguida voltarei a
falar.
Na mesma noite
dentre outros, também foi homenageado como membro honorário o companheiro de
longas lutas o professor Gilberto Santana de Alencar (Gilbertinho).
Voltando à nova
acadêmica Regiane, dois fatos me levaram a publicar informações importantes sobre
ela e também o seu belo discurso.
Um certo dia eu
estava na Biblioteca Municipal professor Egydio Martello, salvo engano na posse
da Zilma Assad para a AML, Regiane e Eu, creio que a única vez sentamos lado a
lado, não me recordo quem chegou primeiro e lembro que ela assistindo aquela
posse linda me pergunta meio curiosa, meio com admiração, o que tinha de fazer
para entrar ali, respondi que tinha de ter alguma publicação de preferência
romance e ressaltei que seria muito bom a presença dela para a Academia.
Em outra ocasião
numa das salas de reuniões do Hotel Paraná Palace, conversamos rapidamente e na
ocasião, eu já sabia que ela iria tomar posse da AML, e foi aí que ela me disse
que tinha nascido em Roncador-PR, terra em que mora minha mãe e que eu morei
até os 25 anos, gostei da coincidência. Com informações que ela me enviou,
descobri também que ela licenciada em Geografia pela nossa gloriosa Unespar
A seguir algumas
informações sobre sua trajetória, o seu discurso de posse. Na publicação
algumas fotos e o vídeo com o discurso.
Nasceu em
Roncador (PR), em 21 de outubro de 1980, filha de Maria Lima das Neves (in
memoriam) e Miguel Timoteo das Neves (in memoriam). Casada com Sérgio Dário
Baldi.
É licenciada em
Geografia pela Unespar – campus de Campo Mourão, licenciada em Pedagogia pelo
Centro Universitário de Araras, e Mestre em Educação Pela Universidade Tuiuti
do Paraná, pesquisando sobre Políticas Públicas para educação. Servidora da
Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Atuou como docente na educação
básica e cursos técnicos em Curitiba, Região Metropolitana e Campo Mourão.
Autora do Livro
“Ela Nasceu Maria dos Anjos” lançado em abril de 2022. Tem resumos e artigos
científicos publicados em Anais e Revistas Acadêmicas.
Desenvolve ações
de articulação pedagógica sobretudo no processo de alfabetização com as
Secretarias municipais da Educação de abrangência do Núcleo Regional de
Educação de Campo Mourão.
DISCURSO DE POSSE
Digníssimo
Presidente da Academia Mourãoense de Letras, Sr. Fabio Alexandro Sexugi, Caras
Confreiras e Confrades, autoridades, queridos amigos e amigas, amados
familiares. Boa noite!
Este é mais um
dia especial e simbólico em minha caminhada. Sinto-me honrada, diante de vocês,
por firmar neste instante a responsabilidade de me juntar a homens e mulheres
que fazem desta prestigiosa instituição um farol de palavras, um instrumento de
valorização, compartilhamento e representatividade da Literatura, da Arte, da
Cultura, da Ciência e do conhecimento.
Cresci na
avenida João Bento, perto do Batalhão do Corpo de Bombeiros, era nossa
referência. Dividia o tempo entre escola, brincadeiras de rua e os afazeres da
casa que sempre ficavam por último. Na casinha de madeira, de porta verde,
dividi com meus irmãos o bolo com cobertura de açúcar na lata em cima do
armário e as memórias de uma infância que hoje reconheço como pérola bruta da
minha história.
Foi nas escolas
públicas de Campo Mourão que fiz minha formação, do contorno das primeiras
letras à produção monográfica. Eu sou fruto da escola e Universidade pública! E
sim, eu dei certo!
São as mãos de
todas as professoras e professores que me acompanham todas as vezes que pego em
uma caneta, esses profissionais contribuíram para a minha formação humana e
escolar em uma escola que acolheu, ensinou, educou.
Como escreveu
Guimarães Rosa em O Grande Sertão
Veredas, “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e
esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da
gente é coragem”
Aquela menina
que um dia eu fui, ficaria feliz em saber que nós estávamos certas em pensar
para além do que era posto, de sonhar com lugares distantes e vislumbrar
futuros.
Eu sou Regiane
Timoteo das Neves Baldi, mulher negra, mestre em Políticas Públicas para
Educação, Licenciada em Geografia e Pedagogia, Servidora da Secretaria de
Estado da Educação do Paraná, companheira do Rotary Raio de Luz, esposa do
Sergio, escritora em construção… mas o meu maior e melhor título, o que eu mais
me orgulho é descender de um legado de homens e mulheres trabalhadores na
lavoura e empregadas domésticas, gente que fez o extraordinário na sua
realidade para que hoje eu possa ser e ocupar espaços na sociedade.
Carrego a
coragem, a esperança e a lealdade de minhas mais velhas Emília, Maria, Geni e Rosaria.
Elas estão em mim, na cor da minha pele, no jeito do meu cabelo e na minha
perspectiva de vida, família e futuro.
Descobri
lugares, bebi de outras águas, conheci outras pessoas, mas Campo Mourão foi e é
meu lar. E eu sou muito grata por essa terra e pela história deste povo. Aqui,
remeto-me a Tony Nishimura, Patrono da cadeira 23, que nos deixou em 24 de maio
de 2006. Nishimura nasceu em Cambará, em 10 de maio de 1943. Foi o responsável
pelo aprimoramento da técnica que consagrou o Carneiro no Buraco. Divulgou o
prato típico Mourãoense em vários estados brasileiros, merecendo destaque na
imprensa nacional. Utilizando a técnica de
pontilhismo a nanquim, deu início às galerias dos ex-presidentes do Rotary
Campo Mourão, Rotary Gralha Azul e do Clube 10 de Outubro. No início da década de 1990, foi contratado
pela Prefeitura Municipal de Campo Mourão, para elaborar em óleo sobre tela a
galeria dos ex-prefeitos, que foi exposta no Paço Municipal.
Quero aqui
também mencionar Jair Elias dos Santos Júnior, renomado historiador,
ex-presidente da Academia Mourãoense de Letras, fundador da cadeira nº 23 que
passo a suceder. Os dois apresentam a história de nossa cidade ao mundo e se
refletem nela por suas contribuições para a literatura e a arte Mourãoense.
Espero ser digna e merecedora de ocupar tal cadeira, honrando os generosos
votos depositados em mim.
Com a leitura,
pude conhecer histórias em diferentes tempos históricos, desbravar lugares
desconhecidos e infindáveis são as obras que nos transportam, nos instigam e
nos despertam emoções.
- Pelos olhos de
Jorge Amado, fui apresentada às ruas de salvador de 1930 com Pedro Bala e seus
amigos em Capitães de Areia;
- Pelo olhar
naturalista de Aluísio de Azevedo, pude conhecer a história de João Romão e
Bertoleza na vivência do Cortiço nas linhas do Romance a retratar as
desigualdades sociais do Rio De Janeiro na segunda metade do século XIX;
- Ri e chorei
com as irmãs Belonisia e Bibiana do autor Itamar Viera Junior que me retratou
um Brasil rural e sua ancestralidade em Torto
Arado.
- Vi a
desigualdade entre homens e mulheres no Sul dos Estados Unidos nos primeiros
anos do Século XX, contada pela perspectiva de Célie, em A Cor Púrpura. Uma história embora repleta de sofrimento, também
revela a força da resistência e a busca por autonomia da mulher negra em um
país segregado.
Sou Grata à Dona
Wilma Borges, que um dia foi Maria dos Anjos por compartilhar suas memórias e
me autorizar a dividir sua história com o mundo. Ela nos ensinou sobre coragem,
escolhas e amor. Dona Wilma nos deixou em 2024 e deixa sua história registrada
não só no Livro Ela Nasceu Maria dos
Anjos, mas nos olhos de Marisa, Duda e Malu na continuação desta
trajetória. Ela vive na voz de cada uma delas!
Em um país que,
segundo pesquisas recentes, lê menos a cada ano, tanto livros físicos quanto
digitais; em uma era de telas e silêncios, em que o conhecimento se entrelaça
com informações fragmentadas e tomadas de verdades distorcidas e absolutas; a
academia Mourãoense de Letras é resistência na defesa da literatura, arte,
Ciência, Conhecimento, incentivo à leitura e à produção literária.
Torna-se Crucial
que tenhamos em mente o futuro esperado para esta sociedade, o que esperamos
das próximas gerações e quem são as pessoas formadas para este futuro próximo.
Um dos caminhos
é o conhecimento sistematizado, como escreveu Dermeval Saviani em sua Pedagogia Histórico-Crítica, o
fortalecimento da leitura e da escrita, que permita a compreensão do mundo que
possa promover transformação social efetiva e consciência do ser, estar e
pertencer.
Continuo tendo
esperança, mas não do verbo esperar e sim de esperançar, pois como bem destacou
Paulo Freire “Esperançar é juntar -se com outros para fazer de outro modo, é
não desistir, é construir, é levar a diante”. É nisso que eu acredito. É isso
que eu semeio. É isso que eu sou! E é para isso que eu trabalho e assim
construo a minha história.
Nesta noite
feliz, meus profundos e afetuosos agradecimentos a vocês.
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