quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE CUBA







































ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE CUBA
Penso que para falar sobre Cuba com propriedade, são necessárias quatro atitudes. Sendo “despir-se” do pensamento capitalista que não permite enxergar outras formas de se viver em sociedade; condenar sem pestanejar o embargo econômico do gigantesco EUA contra uma pequena ilha; respeitar a soberania de um país com 11 milhões de habitantes e finalmente visitar Cuba. Sem as quatro atitudes, só haverá paixão de prós e contras.

Visitei o país durante uma semana neste janeiro de 2020 acompanhado de pessoas maravilhosas e de muito companheirismo, Alessandra Silva, Amauri Ceolim, Leonice Cazarim, Nivalda Sguissardi e Rosefran Gonçales Cibotto, que ficarão na minha memória em um momento tão significativo para mim.

Certamente as considerações deles e delas serão diferentes das minhas em grande parte, exceto pelo encantamento com o belo país e seu povo acolhedor e tão apaixonado pelo nosso Brasil.
Vai ficar também na minha memória o motorista de um Van que contratamos para alguns locais,  o Luis que apelidamos de Ogrito. Extremamente simpático, atencioso, brincalhão e que carregava no dedo um anel bonito. Quando perguntei o que representava, me disse que ele era membro da maçonaria Imaginem a minha surpresa, pois aqui no Brasil normalmente somente quem tem muitas posses ou é um profissional liberal muito respeitado pode fazer parte.  Ele é casado com uma argentina e tem um filhinho.

Quem só viveu sob o regime capitalista como nós brasileiros, muitas vezes não consegue nem imaginar viver num regime socialista. Mas é preciso ter um pouco de humildade, para perceber que também temos nossos problemas e o pior deles é habitar num dos países mais desiguais do mundo com concentração de renda e riqueza brutais, e parte significativa de pessoas vivendo em condições de pobreza e parte em miséria absoluta , exceto para os insensíveis e egoístas, não podemos atestar que isso seja motivo de orgulho para nós.

O embargo econômico contra Cuba foi condenado por 187 países na ONU no final de 2019. Somente EUA, Israel e para nossa vergonha, o Brasil votaram para sua manutenção. Não é preciso escrever muito sobre isso, exceto afirmar que com esse crime, tudo fica mais caro e dificultoso para Cuba em qualquer negociação internacional. Por questões ideológicas o governo dos EUA que pressiona outros governos vassalos tenta massacrar um povo que pensa diferente.  
 
É preciso respeitar a soberania de um povo que apesar de viver numa ditadura, ter  muitas restrições, totaliza 11 milhões de habitantes e que na população há uma expectativa de vida de quase 80 anos, para os desinformados  de plantão, em 2016 Cuba era 79,74 anos e no querido Brasil 75,71, baixíssima mortalidade infantil, um alto índice de desenvolvimento humano – IDH e analfabetismo zero. E que tem avanços interessantes na área da saúde e biotecnologia, vendendo vacinas para mais de 30 países e rendendo muitas divisas nas exportações, sem contar a extraordinária experiência com a exportação de saúde ao formar e disponibilizar médicos e médicas para vários países obtendo divisas ou tão somente socorrendo nos momentos de terremotos  e furacões.  

E finalmente é preciso visitar o país, conversar, ver, sentir.

Da parte ruim, que pude testemunhar, há salários muito baixos para funcionários públicos (aqui talvez o governo pudesse melhorar) e quase todo cubano acaba sendo guia turístico e com simpatia mostra os locais em troca de gorjeta. Há escassez de alimentos com racionamento e isso é culpa do embargo. Nesse aspecto o governo está tentando viabilizar o aumento de produção interna de alimentos. Há restrição de pessoas de Havana para a região de praias de Varadero, embora acredito, seja estratégia para incrementar o turismo que é a maior fonte de divisas do país. Não testemunhei censura, mas se tiver, os brasileiros e brasileiras também enfrentam em parte por aqui desde 2019.

Da parte boa:

Saúde e educação de qualidade e gratuitas.

Segurança elogiada pela população. Fiquei 4 dias em Havana, andei de carro, de ônibus e também a pé, inclusive em horários depois da meia noite, em vários locais e não percebi uma ação suspeita, não há brigas nas ruas, totalmente seguro. Eu e companheiros e companheiras andávamos tranquilos, apenas preocupados com o trânsito meio desorganizado, (por aqui o trânsito é um “espetáculo).  Inclusive, segundo um policial que abordei, não há presídio na capital, há detentos em outras localidades, nesse quesito talvez não se proceda.

Utilizei internet (ainda muito cara e de difícil acesso porque nem todos os espaços recebem o sinal)  e acessei sites aqui do Brasil que não são favoráveis ao modelo de Cuba.  

Assisti a um filme cubano, numa sala de cinema para mil e trezentas pessoas.

Assisti uma peça de humor numa das diversas salas de Teatro de Havana e apesar da incompreensão da língua em algumas partes, pelo talento dos atores e na simples observação da expressão corporal, ao menos da minha parte, dei muita risada e  em vários momentos percebi que  há críticas em alguns aspectos do regime. Isso é salutar pois humoristas existem para isso mesmo. Embora em determinado país da América do Sul atualmente, humoristas são censurados por criticar o governo.   

Assisti alguns espetáculos de dança e várias apresentações musicais de vários estilos. Havana tem música e arte na alma. Testemunhamos a habilidade de um artista reproduzindo telas com fotos de um celular com maestria. Aliás, ao contrário do que eu imaginava, praticamente todos os jovens que vimos têm celular e a população em geral também.

Há os famosos carros antigos e o que para alguns seja motivo de atraso, para mim é nostalgia pura. É impossível não desejar andar neles e tirar fotos. Penso que mal comparando, quando os carros antigos de Cuba deixarem de existir é a mesma simbologia do possível desaparecimento da família real da coroa britânica. Para os consumistas desesperados, por lá também tem carros novos, belas vans e tem motocicletas novas também.  
  
Não vi moradores de rua e fui abordado apenas duas vezes por pedintes. Sou capaz de apostar que Havana com 2 milhões de habitantes tem menos pedintes e moradores de rua que minha querida Campo Mourão com aproximadamente 100 mil pessoas. Isso me faz lembrar a famosa frase do presidente Fidel Castro naquele discurso memorável na ONU “hoje milhões de crianças dormirão na rua, nenhuma delas é cubana. Continua atual.  

Há moradias bonitas e há moradias deterioradas pelo tempo, mas não há uma mansão. Um bom sinal. Ao menos nas partes em que visitamos de ônibus na Havana nova e na velha. Para os desesperados acalmem-se, há propriedades privadas por lá, vimos várias plaquinhas de “se vende”, assim que eles escrevem. Perguntei para um vendedor fabricante de bolsas, quadros e outros artigos de artesanato, numa pequena porta na avenida à beira mar quanto ele pagava de aluguel. Era um dos prédios meio deteriorados com dois cômodos ele disse que havia comprado do governo. Nos fundos produzia junto com seu primo e na frente vendia. Trabalhando com dignidade e alegrando os turistas.

Também nas imperdíveis vielas apertadas de prédios mais antigos, pessoas com o pequeno comércio na frente e residindo na parte dos fundos. Sobrevivendo e alegrando os turistas. A quantidade de restaurantes nas ruas apertadas é incrível e meus amigos que já visitaram a Europa disseram que pareciam estar numa rua da Itália, por exemplo.

Me fez lembrar agora, da fala de um vocalista de uma banda em que fomos assistir música e apresentação de dança num prédio luxuoso de 25 andares, por 10 CUCs (moeda local para turistas quase equivalente ao dólar) a entrada. No show no último andar a cobertura se abre e se vê as estrelas, muito interessante. Ele com um orgulho danado dizia “no nosso país aprendemos a passar a vida improvisando”. Para quem é insensível isso é sinal de dificuldade, para quem tem sensibilidade isso é sinal de resistência e amor à sua terra.

Há cooperativas de trabalhadores e vendedores, há placas de reformas de prédios com a seguinte expressão: OBRA EM EJECUCIÓN – Proyecto de desarrollo local:Economias creativas e placas do tipo: “AREA DE VENTA PARA TRABALHADORES POR CUENTA PROPIA”.

Não há latifúndio na zona rural. Para mim, uma maravilha. Poucas coisas são tão injustas que os grandes latifúndios de terras. 
            
Há belíssimos monumentos e atrações com destaque para o Capitólio que foi restaurado e é de tirar o folêgo.  Muitos prédios estão sendo restaurados com recursos de parceria de outros países especialmente porque Havana completou 500 anos em 2019.

Há cooperação de outros países que não se abaixam para os EUA e preocupam-se com o bem estar de um povo. Vimos um caminhão coletor de lixo moderno e na lataria estaria escrito: já traduzido “Colaboração do povo japonês”.     

O nível educacional dos atendentes dos hotéis é muito bom e se comunicam em várias línguas estrangeiras, especialmente o inglês. Até na “rota do  tabaco” em que conhecemos e visitamos uma propriedade que cultiva o tabaco, um dos membros da família falava fluentemente o inglês. Ele fez um charuto ali na frente de todos e nos convidou a participar daquele momento simbólico, fumar um charuto em que se passa mel na parte que vai à boca para se misturar ao gosto do tabaco. Segundo ele era a forma que Fidel fumava. Certamente nas outras diversas propriedades havia alguém com inglês fluente para se comunicar com os turistas.   
  
As praias são paradisíacas e a vegetação belíssima nas estradas e nos parques. 

Na zona rural em que visitamos, quase 100% das moradias são pintadas com cores muito vivas. Um detalhe que chamou a atenção foi ver a tração animal com dois bois arando a terra. Na hora eu achei aquilo um atraso, depois fui ler no jornal um pronunciamento do Presidente Miguel Diaz Canel Bermúdez e lá e ressaltava a importância do uso da tração animal para evitar utilização de combustíveis que devem ser usados para situações mais necessárias. Na escassez os pontos de vista são diferentes.

O sindicalismo é forte e inclusive apoiado pelo governo. Tivemos a oportunidade de conversarmos por um longo momento com um representante do Sindicato dos professores universitários da Universidade de Havana. Por lá, embora haja somente um partido político, diferente da infinidade que existe por aqui e que grande parte dos políticos troca como se troca de camisa, o debate lá intenso. Segundo o sindicalista a cada dois anos se faz um congresso e discute os avanços e se planeja as melhorias.

Conversei com um professor universitário (está numa das fotos)  diretor do curso de história da Universidade de Havana e ele informou que Turismo, Tabaco, Rum, Café e Açúcar geram muitas divisas mas a biotecnologia com a produção de vacinas será em breve a segunda fonte de divisas do país. Por curiosidade fui pesquisar e eles vendem vacinas para mais de 30 países, tem mais de 600 patentes na área de vacinas, proteínas recombinantes, anticórpios monoclonais, equipamento médico com software especial e sistemas de diagnósticos.  E pasmem, encontrei até uma publicação no UOL de 2018 em que uma parceria entre Cuba e EUA criam a primeira empresa mista de biotecnologia para produzir medicamentos e terapias contra o câncer.

Há hotéis para todos os gostos e bolsos, inclusive vários belíssimos.

A educação formal é obrigatória até o nono ano. O percentual de pessoas com ensino superior é alto.

A liberdade religiosa existe, igrejas católicas, evangélicas e as religiões afro estão por lá. 

A pessoa mais venerada por lá é um argentino chamado Ernesto Che Guevara. Em todos os cantos tem uma foto dele. E frases dele por todo lado.  

Conhecer Cuba era um sonho desde o meu período de graduação em economia lá pelos anos 1990 e já naquela época eu ouvia falar do jornal Granma. No último dia por lá, andando numa belíssima e limpa praça cheia vendedores, lembrei de comprar um jornal para recordação e comecei a perguntar para uns senhores sentados e não me fazia entender, até que eu disse notícias do dia e um senhor elegante, fumando um charuto, abriu a pasta e me entregou o jornal do dia. ÓRGANO OFICIAL DEL COMITÊ CENTRAL DEL PARTIDO COMUNISTA DE CUBA -  Enero de 2020, año 62 de la Revolución – No. 21 – Año 56 – Cierre 12:00 A.M. Edición Única – La Habana. Eu quis é pagar e ele me disse “é um mimo”. Achei de uma grande delicadeza e disse que no Brasil muita gente gosta de Cuba. 

Segundo vários depoimentos, Cuba esteve num momento muito bom com o apoio da antiga URSS, depois quase entrou em colapso, depois melhorou, está em dificuldade mas está melhorando  e o turismo é a maior aposta. Quem sabe eu volte por lá daqui uns cinco anos para conferir se houve mudanças, mas aí é só quizás, quizás, quizás ...                  

sábado, 11 de janeiro de 2020

GRANDE DIA PARA O PT DE CAMPO MOURÃO-PR





Hoje tivemos um grande dia no PT de Campo Mourão. Dentre as várias decisões, a meta de termos chapa completa para prefeito/a e vereadores/as. Penso que poderemos contribuir muito para o  debate e uma alternativa a mais para os mourãoenses. Numa das fotos estou ao lado do nosso presidente Antoninho Castro.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

UM FILME, UM FESTIVAL DE MÚSICA, A INSENSATEZ DE POLÍTICOS E A VIDA DE ALGUMAS PERSONAGENS


Nas férias é possível desacelerar um pouco, ler com mais prazer e tranquilidade,  assistir alguns filmes, séries e documentários.

Nos últimos dias estou acompanhando a repercussão da insensatez do presidente norte americano em busca da reeleição ,  que covardemente e contrariando todas as regras internacionais, autorizou na forma terrorista, o assassinato de um líder militar no Irã (não interessa quem ele era e sim as condições de sua morte) e que vai sem nenhuma dúvida, causar um aumento brutal da violência, do terrorismo e também interferir no preço do petróleo e no bolso especialmente dos menos favorecidos, porque é ainda um insumo importante no custo final dos produtos. No momento em que escrevo, ouço o Bonner admitir que aquilo todos estavam preocupados já está acontecendo, ao relatar os mísseis disparados  pelo Irã contra bases americanas no dia de hoje (07/01/2020).

Para aprender um pouco sobre a história da India, assisti o filme “o último vice-rei”. Belíssimo filme baseado em fatos reais. Nele a Inglaterra nomeia um monarca para depois de muitos anos enfim, “dar a independência” à India. E para tanto no final foi necessário criar  outro país, o Paquistão, apesar da insistência de Mahatma Ghandi  para que houvesse união entre os habitantes de culturas e religiões diferentes. Quem assistir o filme vai ver o jogo de interesses da Inglaterra e a imensa quantidade de perda de seres humanos mortos em conflitos, por fome e doença e pela migração obrigatória, sem nenhuma condição humana e econômica para tal. Prova absoluta de insensatez política.

Assisti também um interessante Documentário “Uma noite em 1967 – (Brasil -  2010) que trata dos bastidores do Festival de música da Record  (era a potência da época). No Documentário se vê dentre outros nomes,  nada mais nada menos que os bem jovens, Caetano  Veloso, Chico Buarque,  Elis Regina, Edu Lobo,  Gilberto Gil, Rita Lee , Roberto Carlos e Sérgio Ricardo (aquele que quebrou o violão e arremessou com raiva na plateia). Há deliciosas entrevistas com a maioria deles (jovens e depois idosos) intercaladas entre as cenas do evento histórico. Tem também a nostalgia de ver as vestimentas  e o que estava na moda e inclusive algo que me deixou incomodado, que foi ver repórter com um microfone na mão e na outra um cigarro fazendo entrevista.  

O Festival ocorreu logo no início do governo militar, que alguns pensavam que seriam apenas algumas noites mal dormidas, mas que se tornou um período sombrio da nossa história durante 21 anos. Prova absoluta de insensatez política.

Passados 52 anos, algumas considerações interessantes sobre alguns dos artistas citados. E a demonstração de que vale a pena questionar, lutar quando é preciso  e que o futuro é realmente imprevisível.

O Caetano Veloso, hoje aos 77 anos, grande talento musical, sucesso absoluto,  sempre se manifestou com suas ideias, pagou o preço ao ter que se exilar em outro país, diante da insana frase “Ame o deixe-o”.

O Gilberto Gil, também com 77 anos, um dos maiores cantores brasileiros, sempre se manifestou com suas ideias, têm várias letras bem críticas ao sistema e foi obrigado a se exilar também para escapar dos anos de chumbo.

A Elis Regina bem mocinha no referido Festival, ganhou a premiação de melhor intérprete e passou sua breve vida (morreu aos 36 anos) ,sendo uma das maiores cantoras do Brasil e grande questionadora, ativista política, basta assistir sua última entrevista ocorrida alguns dias antes de sua morte. E lembremos que a música “o bêbado e o equilibrista” é considerada na magistral interpretação dela,  como o símbolo da redemocratização.  

O Roberto Carlos é conhecido como o “Rei Roberto”. Tem 78 anos, possui um número muito grande de fãs, mas nunca foi ativista político. Que eu saiba uma pouca ação meio velada foi quando escreveu a música “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos” homenageando o Caetano quando estava exilado. A música depois foi regravada pelo próprio Caetano e em uma das estrofes tem “ você olha tudo e nada lhe faz ficar contente, você só deseja agora, voltar pra sua gente”.

A grande nossa rainha do Rock Rita Lee, feminista,  hoje tem 72 anos e grande parte de suas canções são de protestos.

E deixei o Chico Buarque para o final, porque para mim, é o mais talentoso e autêntico de todos. Um grande compositor. Se auto exilou por um período fora do país, tem composições de protesto, teve canções censuradas na época dos anos de chumbo, driblou por um tempo a ditadura com o pseudônimo “Julinho da Adelaide”. Além de compositor é um grande escritor e no final de 2019, ganhou nada menos que o prêmio Camões de Literatura, um dos maiores da língua portuguesa,  do Ministério da Cultura de Portugal que é assinado e patrocinado conjuntamente com o Ministério da Cultura do Brasil. Vai receber o prêmio em dinheiro (100 mil euros) e a premiação será em Portugal no mês de maio de 2020, mesmo sem assinatura (até o momento) do presidente Bolsonaro que se recusa a assinar. Como a assinatura do presidente brasileiro é mera formalidade segundo o governo português, o Chico respondeu que a não assinatura é um segundo prêmio em um só . Palmas para ele.