segunda-feira, 19 de maio de 2025

UM BELÍSSIMO TEXTO SOBRE A CEGUEIRA SOCIAL ESCRITO PELA CLEUSA PIOVESAN


O Blog do Maybuk sempre que possível publica textos da escritora paranaense Cleusa Piovesan. Ela é incansável na publicação e publica vários estilos. O Editor do Blog do Maybuk professor Sérgio Luiz Maybuk, inclusive, tem uma pequena participação numa de suas obras.

Recomenda-se segui-la no Facebook Cleusa Piovesan e no Instagram @cleusa.piovesan

Hoje segue a publicação de um belíssimo texto sobre a Cegueira Social. 

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

Essa é a epígrafe do livro de José Saramago, Ensaio sobre a cegueira, publicado em 1995, que aborda um tema que deveria preocupar a todos, mas, desde então, a cegueira social se ampliou e a literatura não serve de alerta. Fosse assim, a distopia criada por George Orwell em 1948, no livro 1984, não estaria se confirmando na “sociedade da vigilância”, monitorada por câmeras em muitos espaços sociais, e nos acessos a internet, em que nossos dados são usados e manipulados para nos induzir a adquirir não apenas produtos, mas ideologias muitas vezes, contrárias à ética e à moralidade, transformando o mundo em um “hospício a céu aberto” em que os que ainda se julgam sãos tentam convencer os demais de que há uma cegueira coletiva e que faz-se urgente tirar a venda dos olhos e enfrentar a realidade. Com inspiração nessas duas obras escrevi este poema!

 

CEGUEIRA

 

A humanidade está ensandecida, perdida,

E não há mais um conceito de normalidade,

Tudo é extrapolação ou fugacidade.

Ninguém mais encontra seu lugar no mundo,

Há um labirinto intransponível, um abismo profundo,

No qual as pessoas estão mergulhando em busca de si mesmas.

Os conflitos internos exteriorizam-se

Em atitudes mesquinhas ou hipócritas

E revelam o lado obscuro do ser humano

Que deveria ficar submerso - iceberg -

Tal qual um, em sua profundidade mais extrema.

Ou não há como solucionar esse problema?

Triste dilema de uma raça que se autodenomina superior

E não consegue lidar com as próprias neuras. Que horror!

E no meio de tudo, um grito abafado, de terror.

O terror que submerge das entranhas

Estranhas de quem já não se reconhece

E não se identifica com nenhuma das ideologias vigentes,

Está perdendo a noção do que é ser gente.

Pode-se chamar de idiota ou de inocente?

Talvez de inconsequente, ou demente?

E o mundo que os aguente, dementes,

Até que a explosão da loucura contida,

Por um fiapo remendado, mal costurado,

Do que se acostumou a chamar de vida

Lance seus estilhaços sobre inocentes,

E manche de sangue as páginas dos jornais mais influentes,

E mostre corpos despedaçados

Como se não pertencessem a um ser humano

E pudessem ser expostos como em uma vitrine ou na rua

Para que as pessoas admirem, deleitem-se,

E se acostumem com a violência gratuita

Que inunda as ruas e mostra a verdade nua e crua.

Uma esquizofrenia social, anormal, amoral,

Que se abateu sobre mentes enfraquecidas,

Destituídas de senso de julgamento, seres patológicos

Que perderam o escasso juízo,

E tornaram-se parte de um experimento

Que criou uma doença social chamada depressão,

Sem sintomas externos, somente psicológicos,

Que enriquece os grandes laboratórios

Com a criação de drogas psicotrópicas,

Que ao invés de aliviar os sintomas, potencializam-nos;

efeito inverso e tão perverso!

Um contingente de seres perdidos em seu próprio universo,

Adotando um comportamento controverso,

Que os exclui e os marginaliza, virando-os do avesso.

Infeliz humanidade que agoniza na cegueira que a alienação visa.

Sem o domínio da razão, sem nexo,

O homem torna-se uma marionete do sistema,

Cada vez mais complexo com seus intermináveis dilemas.

2 comentários:

  1. Gratidão, meu amigo, pela publicação. Que os abrolhos se multipliquem e tenhamos uma sociedade mais lúcida!

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  2. Lindíssimo trabalho. Parabéns, poetis'amiga Cleusa

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