sábado, 24 de fevereiro de 2018

MAYBUK CINCO PONTO ZERO



















O ano de 1968 foi considerado mágico por alguns e o ano que não terminou por outros. Teve a guerra do Vietnã, morte do famoso astronauta Yuri Gagarin, assassinato de Martin Luther King, morte de Assis Chateaubriand, Metalúrgicos de Contagem –Mg  que entram em greve em plena ditadura militar, lançamento da Tropicália no Brasil, Revolução de maio de 68 com os estudantes na França, primeiro transplante de coração no Brasil,  passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro, Associação Brasileira de Imprensa sofrendo atentado com bomba, Reunião clandestina da UNE que teve 720 estudantes presos, casa de Dom Helder Câmara metralhada no Recife, AI5  editado no Brasil  e teve Beatles a voz da juventude na época. 

Pois bem, no referido ano agitado, uma senhora grávida lá de Roncador-Pr, esposa de um caminhoneiro que iria ficar desempregado dias depois, vêm para Campo Mourã-Pr, porque na sua cidade não havia hospital. E por intermédio da senhora Amélia de Almeida Hruschka (foi vereadora e deputada estadual), no dia 22 de fevereiro deu a luz a um “polaquinho” chamado Sérgio Luiz, portanto do signo de peixes, um pisciano. Depois dele o casal Julio e Ines trouxe ao mundo Rose Mari nascida em Pitanga-Pr e Rosane nascida em Roncador-Pr.

As más línguas dizem que há uma relação entre um hospício (o mundo) e os signos,  bem interessante. Tem os donos do hospício, aqueles que mandam que são os signos de Leão e Capricórnio (minha noiva Leda). Tem os coordenadores que são Touro e Virgem, os pacientes problemáticos Gêmeos, Sagitário e Aquário, os pacientes  altamente perigosos Áries e Escorpião, e finalmente os psiquiatras do hospício que são Câncer, Libra e Peixes. E assim a partir daquele nascimento havia no mundo um futuro “psiquiatra” rsrs.

O menino nascido em Campo Mourão mas criado em Roncador-Pr e que lá, pelos antigos é conhecido como “Tico”, teve uma infância feliz, embora tendo algumas dificuldades. Nunca passou fome, mas teve que comer pão com margarina no Colégio Nossa Senhora das Graças e sentindo o cheiro daquele maravilhoso e cheiroso pão com mortadela (era chique na época) dos alunos mais riquinhos. Comia paçoquinha e doce de abóbora no Bar do falecido Pedro Mendes, mas ficava de olho naquele tal de prestígio e choquito, coisas que a primeira TV em preto e branco usada, que seu pai adquiriu mostrava.

O menino também ficava radiante quando ganhava roupas de segunda mão dos primos ricos. Também quando ia passear em Campo Mourão e tomava iogurte e comia aqueles arrozinhos caramelizados. Mas também ficava feliz quando na maior dificuldade, seu pai comprava uma roupa nova ou sua mãe que era costureira fazia uma. O menino adorava estudar, um tanto pelo amor aos estudos, mas outro tanto pela extrema timidez que obriga a criatura a se apegar nos estudos. No verão era uma beleza, mas no inverno o “bicho” pegava e as vezes era necessário colocar jornais dentro dos sapatos para aquecer os pés, especialmente para pisar naquela camada de gelo para lá de grossa e os casacos e toucas de lã que a Dona Inês fazia e ainda faz, salvavam a pele dele.

Naquela época no Colégio,  era fila para rezar e fila para cantar o hino nacional e de vez em quando outros hinos ainda. E há de se ressaltar que o Colégio era particular, como o pai pagava não se sabe, porque as condições financeiras eram difíceis.  

O menino jogava bola, brincava de bets, adorava andar pelas valetas cheias d’água nos dias de chuva naquelas ruas sem asfalto, de vez em quando enterrava um prego ou caco de vidro naqueles pés descalços e de noite após o banho de chuveiro de lata (com água fervendo misturada com água fria), o negócio era escutar o barulho daquele botijão de gás alaranjado que iluminava o ambiente e ouvir o programa de rádio gaúcho do Darci Fagundes.

O menino foi coroinha, queria ser padre, mas depois se encantou com as quadrilhas (aquelas de festa junina), hoje nem se pode citar esse palavrão, e viu que havia outras alternativas mais interessantes que ser padre, embora a timidez fosse cruel. E assim o menino venceu a primeira década de vida e no quarto ano primário no Colégio das Freiras, teve um bom desempenho e lembra com carinho de vários e várias colegas de sala de aula e a maioria está por aí e de duas professoras que lembra bem, a Júlia Marioli e a Maria José, irmã da Rejane Bisol.

A segunda década do menino já o fez perceber que o “jogo era bruto”. O tal do ginásio era mais difícil, tinha o dobro de disciplinas, o colégio era público e começou a ter contatos com alunos ainda mais pobrezinhos do que ele achava que era,  a merenda oferecida sempre era uma benção.  Teve vontade de ganhar dinheiro e catou alumínio e fios de cobre nos terrenos baldios e a opção de venda era para o Seu Belarmino, já falecido.

Depois ficou um ano vendendo sorvetes e estava diminuindo a timidez. Comprou parte do material escolar com o dinheiro ganho. Aos 13 anos, para superar a angústia de “ainda não estar trabalhando”, foi contratado para trabalhar na Farmácia Nova do falecido Nathel Veiga. Por causa dos plantões, domingo sim, domingo não, era mais difícil se divertir. Mas ainda sim, além de trabalhar e estudar, o adolescente jogava bola, disputava campeonatos em campinhos de terrenos vazios, jogava sinuca, baralho e felizmente, naquele período, além da bebida (quase todos eram fisgados) e cigarro (nunca fisgou o adolescente) outras coisas perigosas não estavam disponíveis como hoje. Tinha as festas de igreja, as danças no Salão São Nicolau, carnaval de bloco que a irmã dele participava e ele dançava sozinho. Financeiramente  a família tinha dificuldades,  nessa segunda década seus pais mudaram de casa alugada mais de dez vezes, até enfim o pai construir uma casa e mudar posteriormente em outras duas, mas todas próprias.

O final da década do adolescente foi importante por ter conquistado uma vaga de quase um ano de trabalho de estagiário no Banco do Brasil, na época que o gerente era o seu Luiz Gonçalves (hoje aposentado em Londrina-Pr). O estágio foi importantíssimo porque lá, especialmente pela insistência do gerente, o assunto estudar, ficou na cabeça do adolescente/jovem e também  abriu o caminho profissional. No encerramento da segunda década já era funcionário da COAMO, maior cooperativa agrícola da América Latina.

A terceira década do agora jovem teve um início legal. Havia terminado o ensino médio, estava bem empregado, conheceu a praia a primeira vez de excursão aos 21 anos. Aos 22 anos prestou vestibular para ciências econômicas na então Fecilcam, hoje Unespar campus de Campo Mourão, da última turma semestral. Acabou passando em décimo sétimo colocado. Nem sabia quando as aulas começariam até saber pela matrícula que seria dali uns quinze dias. Seu chefe imediato o falecido Juraci Correia, que era economista disse que se ele quisesse fazer um bom curso, deveria saber que seriam cinco anos sem aproveitar os domingos para lazer. Dito e feito. E é importante acrescentar que o jovem fez de ônibus, 200 km por dia durante quatro anos e meio para concluir o curso.  

O ingresso no ensino superior foi determinante para a vida pessoal e profissional do moço. Encontrou muitos amigos, até aprendeu a dançar, arrastado por uma colega de sala, começou a conhecer a fundo a realidade brasileira e a brutal concentração de renda e riqueza, a tal ponto de no trabalho de conclusão de curso escrever uma monografia intitulada “a pobreza e a distribuição de renda no Brasil. Logo que terminou o curso, exatamente seis meses depois, abriu concurso para professor efetivo e na época a exigência era só graduação e o moço conquistou a vaga e tornou-se professor.  Um ano depois, talvez por falta de opção, foi escolhido como coordenador de curso  depois teve mais quatro mandatos seguidos totalizando dez anos. 

No final da terceira década, não podia fechar com prêmio maior,  pois aos 30 anos, fruto de um relacionamento com a professora Rozenilda, ganhou seu maior tesouro o Giordano Bruno, outro pisciano que está ao lado dele na primeira foto.

A quarta década do agora homem formado, começou com a sequência dos mandatos de coordenador de curso, foram mais quatro seguidos. Concluiu o curso de especialização em comércio exterior com ênfase em MERCOSUL pela então Fecilcam , participou do Tribunal da Dívida Externa no Rio de Janeiro, evento que reuniu pessoas do mundo todo. Foi um período dos primeiros artigos científicos, das pesquisas de TIDE – Tempo Integral de Dedicação Exclusiva, uma infinidade de participação em comissões e eventos, participações externas em movimentos sociais, visitas a acampamentos de Sem Terra, Romarias da Terra, viagens para Curitiba e outros Estados na condição de coordenador de Curso, Coordenação do Núcleo de Pesquisas Econômicas – NEPE com pesquisas mensais da Cesta Básica em Campo Mourão, tesoureiro da FHEPE –Fundação Horácio Amaral sob a presidência do professor Agenor Krul falecido recentemente, eventuais publicações de artigos no Jornal Tribuna do Interior (aquela época única alternativa de escrever ao público), participações em viagens técnicas do Curso de Ciências Econômicas em Curitiba, Paranaguá, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Projetos socioeconômicos de cooperativas populares. A primeira viagem de avião até Uberlândia-MG para apresentar trabalho científico. Participou de Grupos de Pesquisa e claro teve a criação do Blog do Maybuk que ocorreu em 2008.

A quinta década do homem formado também foi  bastante intensa, além das publicações normais acadêmicas, concluiu o mestrado em Desenvolvimento Econômico pela UFPR, foi Secretário Geral no segundo mandato do diretor da então Fecilcam professor Antonio Carlos Aleixo,  participou ativamente de movimentos sociais, sindicato dos professores universitários, do Partido dos Trabalhadores de Campo Mourão-Pr, esteve três vezes na sala de reuniões do Governo do Paraná,  em 2012 foi nomeado pelo governador Beto Richa membro da Agenda do Trabalho Decente Paraná/OIT – Organização Internacional do Trabalho, foi nomeado Auditor e Controlador da Unespar nos dois mandatos do reitor professor Antonio Carlos Aleixo, publicou  dois capítulos de livros e um livro de sua autoria. Recentemente se filiou a AME - Associação Mourãoense dos Escritores e participa de Saraus. Na vida pessoal, mantém um relacionamento há quase uma década com a profissional da beleza Leda Mariza, e teve oportunidade de conhecer vários Estados do Brasil a passeio e também para eventos acadêmicos. No exterior por enquanto somente um pouco de Argentina e Paraguai, mas é possível que conheça mais no futuro.

Quando o menino Sérgio Luiz Maybuk estava para nascer, um anjinho enxerido deve ter falado para Deus, já que em 1968 vão morrer pessoas ilustres tais como o autronauta Yuri Gagarin, Martin Luther King e no Brasil um dos inventores da televisão Assis Chateaubriand e aqui do céu se escuta o maravilhoso som dos Beatles, o senhor todo poderoso, poderia torná-lo uma pessoa mundialmente famosa. E Deus na sua sabedoria disse ao anjo para não se meter naquilo que não é de sua conta rsrs. O menino que agora completa 50 anos, não ficou uma pessoa mundialmente famosa, mas é inquieto, participou de várias coisas e incomoda “prá caramba” com suas convicções e para algumas pessoas é até acusado de neurótico. Mas como no terceiro parágrafo do texto, afirmou-se que o mundo é um hospício e ele um dos psiquiatras dele, ninguém pode reclamar rsrs.

Resta comemorar o Maybuk cinco ponto zero.  


               
             

      

4 comentários:

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