Quando eu tinha 20 anos, numa atividade de grupo de jovens
da igreja católica lá em Roncador-Pr, assisti pela primeira vez o belíssimo
filme “A missão” que tem na sinopse, “ O Padre Jesuíta Gabriel (Jeremy Irons)
vai para a terra dos Guaranis, na América do Sul, com o propósito de converter
os nativos ao Cristianismo. Rapidamente ele constrói uma missão, juntamente com
Rodrigo Mendoza (Robert De Niro), um comerciante de escravos em busca de
redenção. Quando um tratado transfere a terra da Espanha para
Portugal, o governo português quer capturar os nativos para o trabalho escravo.
Mendoza e Gabriel protegem a missão, discordando da realização da tarefa.
Naquela época eu era bem mais rebelde que
hoje, e a igreja católica tinha dentre as suas vertentes a “teologia da
libertação”, que fez um trabalho primoroso
nas comunidades de base no Brasil e outros países da América Latina.
Período em que, segundo o grande teólogo Leonardo Boff, a igreja ficou um pouco
mais próximo da barca de Pedro e mais longe dos palácios de Herodes.
Naquele momento ao assistir o filme, eu
quase só percebi a questão indígena, a intolerância da igreja e dos poderosos
de Portugal e Espanha e nem percebi que um dos fatores primordiais do massacre
era uma questão econômica, porque aquela missão vivia como os cristãos
primitivos. Naquele momento, obviamente, jamais pensei que iria fazer um curso superior e muito menos
me tornar professor de economia, sempre preocupado com distribuição menos
injusta da renda e riqueza e com as causas sociais em geral e críticas ferrenhas
a esse sistema capitalista brutal que
produz muito mais morte do que vida.
E como sou amante dos filmes, jamais poderia
imaginar que atualmente poderia ver a
qualidade impecável dos dois grandiosos atores Jeremy Irons e Robert de Niro que
sempre quando se lança um filme novo e um deles está presente, pode ter certeza
que veremos grande atuação.
O tempo passou e hoje aos 49 anos, ou seja,
29 anos depois assisti novamente o filme. De lá para cá a coisa só piorou. A questão indígena atual está catastrófica,
considerando nosso congresso nacional, que tem na sua imensa maioria, parlamentares
que vivem de costas para o povo e boa
parte deles podem até ser considerados criminosos dependendo do que ajudam a aprovar e pelas benesses que recebem. A igreja
católica mudou muito, a teologia da libertação perdeu espaço para os
carismáticos, o povo mais sofrido ficou com mais orações e cânticos que são
importantes para a alma, mas infelizmente sem ações concretas de mudanças
materiais e políticas que não mudam
realidades.
O capitalismo cada dia mais perverso e brutal,
agora imperando a intolerância e até a xenofobia, a direita individualista
ganhando espaço, mas como sempre temos que ter esperança e como disse Antonio
Gramsci sermos pessimistas na análise e
otimistas na ação, e como por parte da igreja, já não temos Dom Paulo Evaristo
Arns, Dom Oscar Romero e o grande lutador Dom Pedro Casaldáliga já está
beirando os 90 anos, temos que contar com um fio de esperança nas atitudes
importantes do Papa Francisco. E por parte da política torcer pela união das
esquerdas na América Latina para enfrentarmos os retrocessos constantes que
estamos assistindo.
E para encerrar, recomendo que assistam “A
missão”. Deve ter na única locadora sobrevivente de Campo Mourão, deve ter no
Youtube e tem por enquanto na Netflix.
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