sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O FILME “A MISSÃO” EM DOIS MOMENTOS



Quando eu tinha 20 anos, numa atividade de grupo de jovens da igreja católica lá em Roncador-Pr, assisti pela primeira vez o belíssimo filme “A missão” que tem na sinopse, “ O Padre Jesuíta Gabriel (Jeremy Irons) vai para a terra dos Guaranis, na América do Sul, com o propósito de converter os nativos ao Cristianismo. Rapidamente ele constrói uma missão, juntamente com Rodrigo Mendoza (Robert De Niro), um comerciante de escravos em busca de redenção. Quando um tratado transfere a terra da Espanha para Portugal, o governo português quer capturar os nativos para o trabalho escravo. Mendoza e Gabriel protegem a missão, discordando da realização da tarefa.

Naquela época eu era bem mais rebelde que hoje, e a igreja católica tinha dentre as suas vertentes a “teologia da libertação”, que fez um trabalho primoroso  nas comunidades de base no Brasil e outros países da América Latina. Período em que, segundo o grande teólogo Leonardo Boff, a igreja ficou um pouco mais próximo da barca de Pedro e mais longe dos palácios de Herodes.

Naquele momento ao assistir o filme, eu quase só percebi a questão indígena, a intolerância da igreja e dos poderosos de Portugal e Espanha e nem percebi que um dos fatores primordiais do massacre era uma questão econômica, porque aquela missão vivia como os cristãos primitivos. Naquele momento, obviamente,  jamais pensei  que iria fazer um curso superior e muito menos me tornar professor de economia, sempre preocupado com distribuição menos injusta da renda e riqueza e com as causas sociais em geral e críticas ferrenhas  a esse sistema capitalista brutal que produz muito mais morte do que vida.

E como sou amante dos filmes, jamais poderia imaginar  que atualmente poderia ver a qualidade impecável dos dois grandiosos atores Jeremy Irons e Robert de Niro que sempre quando se lança um filme novo e um deles está presente, pode ter certeza que veremos grande atuação.

O tempo passou e hoje aos 49 anos, ou seja, 29 anos depois assisti novamente o filme. De lá para cá a coisa só piorou.  A questão indígena atual está catastrófica, considerando nosso congresso nacional, que tem na sua imensa maioria, parlamentares que vivem de costas para o povo  e boa parte deles podem até ser considerados criminosos dependendo do que ajudam a  aprovar e pelas benesses que recebem. A igreja católica mudou muito, a teologia da libertação perdeu espaço para os carismáticos, o povo mais sofrido ficou com mais orações e cânticos que são importantes para a alma, mas infelizmente sem ações concretas de mudanças materiais  e políticas que não mudam realidades.

O capitalismo cada dia mais perverso e brutal, agora imperando a intolerância e até a xenofobia, a direita individualista ganhando espaço, mas como sempre temos que ter esperança e como disse Antonio Gramsci  sermos pessimistas na análise e otimistas na ação, e como por parte da igreja, já não temos Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Oscar Romero e o grande lutador Dom Pedro Casaldáliga já está beirando os 90 anos, temos que contar com um fio de esperança nas atitudes importantes do Papa Francisco. E por parte da política torcer pela união das esquerdas na América Latina para enfrentarmos os retrocessos constantes que estamos assistindo.

E para encerrar, recomendo que assistam “A missão”. Deve ter na única locadora sobrevivente de Campo Mourão, deve ter no Youtube e tem por enquanto na Netflix.

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