quarta-feira, 23 de março de 2011

A ESPADA, OS PREGUINHOS E A LATA DE LEITE NINHO

Que diabos de relação pode existir entre uma espada, preguinhos e uma lata de leite ninho?

Pensando racionalmente eu diria que existe uma relação entre as três coisas, no sentido de que todas são matéria.

No mundo imaginário de uma criancinha e na cabeça de um escritor qualquer coisa pode.

Não sou mais criança, mas sou um reles aprendiz de escritor e na referida condição, posso imaginar e escrever a relação entre as três coisas citadas.

Quando eu era criança, lembro-me do quanto era tímido, medroso e quanta coisa interessante deixei de fazer por medo de tentar. Cada lembrança negativa, é como se fosse um preguinho cravado no coração, pois dizem que lembrar coisa ruim é sofrer duas vezes.

Na minha timidez e impotência diante de coisas que gostaria de fazer e não tinha coragem, como bom pisciano, eu me saía, brincando de personagens poderosos. O que mais eu gostava era do Zorro, pois além de ser poderoso com aquela espada, ele também era o salvador da pátria protegendo os injustiçados, característica que achava o máximo.

Jamais eu iria imaginar que fosse me tornar professor de economia política e debater questões de desigualdades sociais e combater com minha "espada imaginária" a brutal concentração de renda que ainda existe no Brasil.

Já tratei da espada do Zorro, já tratei dos preguinhos e o leite ninho? Ah!, agora vem a parte mais gostosa. Quando na minha humilde infância, não tinha as delícias de todo tipo de docê que na atual geração, meu filho Giordano Bruno sempre teve à disposição. Coisa boa de comer, além da comida da minha mãe, era muito raro. Mas eis que numa certa época, apareceu em Roncador-Pr (cidade em que me criei) um produto na forma de um pó amarelo e cheiroso, que se fosse misturado com água PASMEM, virava leite e foi uma inovação extraordinária para a época.

Não sei por que cargas d'água, eu nunca gostei de leite puro, só gostava no café, mas quando descobri que aquele pó amarelo, também poderia ser comido de colher, meu Deus, que delícia, era de um prazer enorme encher a boca e nem poder falar com algumas colheradas de leite ninho, mesmo que levasse uns safanões de minha mãe.

Hoje depois de adulto, fico pensando se eu pudesse de alguma forma, arrancar cada preguinho cravado no meu coração, das minhas angústias de criança, transformá-los em matéria como pregos normais, eu juro que pegaria todos, colocaria em latas de leite ninho vazias e enterraria num bucaro lá nos fundos da casa do meu pai e de quebra, iria fazer com uma espada , um grande "ésse" no chão, em vez de "ze", pois afinal de contas, não sou Zorro, sou Sérgio e com certeza me sentiria o homem mais poderoso do mundo.

3 comentários:

  1. Meu Amigo Sergio!
    Existem pessoas que passam a vida lamentando suas dores e acabam se tornando vítimas de suas escolhas. Outras, escondem suas dores e se tornam vítimas da rigidez e da frieza... porém há aquelas Grandes Pessoas, que conseguem transformar suas dores em poesia e aprendizado. É maravilhoso poder se deliciar com suas palavras, que transmitem a força e beleza de um Ser Humano verdadeiramente poderoso, pois é capaz de se transformar ao longo da jornada da vida.
    Abraços com admiração.
    Manoel

    ResponderExcluir
  2. Acho que são os preguinhos que seguram meu coração...se eu fosse tirar todos, não viveria.
    De tantas mágoas que tenho!!!

    ResponderExcluir
  3. Maybuk, você mexeu mais uma vez com minhas emoções. É muito bom quando vemos no outro um pouco de nós. Histórias de vida semelhantes, posições semelhantes, amigos afins... Já foi dito por um "cara" que lemos e sempre ouvimos falar: "a necessidade é o princípio do desenvolvimento". Você, eu e mais uns tantos que estão nesse mundão confirmam isso. Valeu!!! Acredito que em breve não será mais preciso cravar preguinhos no seu peito, pois você é muito especial.

    ResponderExcluir

LEIA COM ATENÇÃO!

Este espaço é para você fazer o seu comentário sobre a postagem ou mesmo sobre o blog como um todo. Serão publicados todos os comentários a favor ou contra, desde que não contenham textos ofensivos.
Os comentários serão publicados até 24 horas após o envio.

Se você NÃO quiser se identificar, marque o seu perfil como ANÔNIMO e envie. Se você QUISER se identificar, marque o seu perfil como NOME/URL, escreva o seu nome no campo NOME e deixe o URL em branco e envie.