Rosas de guerras
Eu corria por uma pequena rua,
De uma pequena vila de Trang Bang,
Durante a Guerra do Vietnã.
Cruzei com pessoas correndo,
Com um olhar de terror,
Desesperadas, desorientadas.
Uma menina, gritando, toda queimada,
Depois de ser atingida
Por uma bomba de Napalm.
Era 1972 e uma rosa-de-fogo reapareceu,
Cruel, impiedosa - anti-cálida…
Outro dia,
Deparei-me -
Com uma foto em preto e branco,
Pendurada na parede.
Era ela, a mesma menina
Que cruzei décadas atrás.
Eu percebi, olhando aquela foto,
Que aquela menina nunca deixou de correr.
Corre ainda - em outras ruas,
Em outros rostos, em outras guerras.
Lembrei-me de certa rosa-atômica,
Que me remetia a uma rosa-amarela,
Uma rosa-explosiva -
Um pólen que queimam todas,
Todas as crianças da vila vietnamita.
E crianças do mundo todo.
Pólen de um país, que vomita,
Que é náusea… náusea…
E, em pleno século XXI,
Crianças mortas na Ucrânia,
Mortas na Palestina,
Na Síria, em Israel…
Doces anjos sacrificados.
Deixaram lugares vazios
Nos parquinhos de brincar.
Braços vazios de filhos.
Pequenas rosas-brancas,
Maculadas de sangue.
O país número um, ainda decide tudo:
O bem e o mal da humanidade.
Decidem sobre a plantação
De rosas-atômicas.
Mas nós, incrédulos,
Sonhamos com um horizonte de paz -
Uma paz que se faz,
Se refaz,
E se faz necessária.
Rezamos no Vaticano,
Crianças estrangeiras, de todos os cantos,
Cantam,
Com botões de rosas – rosas-brancas -
Nas mãos e nos cabelos.
Porque um homem,
Que veio do Norte
E escolhido pelo Espírito Santo,
Para ocupar o lugar de Pedro.
Uma flor-de-lis, brandamente pura,
Que prega ao mundo:
A paz. A paz. A paz…
Muitos imigrantes,
Muitos refugiados,
Procuram abrigo,
Um lugar seguro
Para as crianças inocentes.
Por pão, roupas, abrigo do frio.
Para arrefecer seus medos, e desalentos…
Rosas-multicoloridas brotam
Nos acampamentos.
Da flor da macieira viva,
Seria, realmente, tudo fruto
De profecias antigas?
E se no fruto proibido, houver também
Circuitos, algoritmos, códigos -
E não só desejos?
Depois de o homem comer do fruto proibido,
Seria o fim - ou o recomeço dos humanos?
Dos homens sem alma,
Ou o começo humanóides,
E da Inteligência Artificial (IA)…
Seria o fim de um mundo que já está no fim?
Talvez, no fim, reste apenas uma flor -
Pequena, frágil, brotando na fresta de concreto,
Resistindo em se chamar: Rosa-da-paz.