O Blog do Maybuk sempre que possível publica textos da escritora paranaense Cleusa Piovesan. Ela é incansável na publicação e publica vários estilos. O Editor do Blog do Maybuk professor Sérgio Luiz Maybuk, inclusive, tem uma pequena participação numa de suas obras.
“Se podes olhar, vê. Se podes ver,
repara.”
Essa é a epígrafe do livro de José Saramago, Ensaio
sobre a cegueira, publicado em 1995, que aborda um tema que deveria
preocupar a todos, mas, desde então, a cegueira social se ampliou e a
literatura não serve de alerta. Fosse assim, a distopia criada por George
Orwell em 1948, no livro 1984, não estaria se confirmando na “sociedade
da vigilância”, monitorada por câmeras em muitos espaços sociais, e nos acessos
a internet, em que nossos dados são usados e manipulados para nos induzir a
adquirir não apenas produtos, mas ideologias muitas vezes, contrárias à ética e
à moralidade, transformando o mundo em um “hospício a céu aberto” em que os que
ainda se julgam sãos tentam convencer os demais de que há uma cegueira coletiva
e que faz-se urgente tirar a venda dos olhos e enfrentar a realidade. Com
inspiração nessas duas obras escrevi este poema!
CEGUEIRA
A
humanidade está ensandecida, perdida,
E
não há mais um conceito de normalidade,
Tudo
é extrapolação ou fugacidade.
Ninguém
mais encontra seu lugar no mundo,
Há
um labirinto intransponível, um abismo profundo,
No
qual as pessoas estão mergulhando em busca de si mesmas.
Os
conflitos internos exteriorizam-se
Em
atitudes mesquinhas ou hipócritas
E
revelam o lado obscuro do ser humano
Que
deveria ficar submerso - iceberg -
Tal
qual um, em sua profundidade mais extrema.
Ou
não há como solucionar esse problema?
Triste
dilema de uma raça que se autodenomina superior
E
não consegue lidar com as próprias neuras. Que horror!
E
no meio de tudo, um grito abafado, de terror.
O
terror que submerge das entranhas
Estranhas
de quem já não se reconhece
E
não se identifica com nenhuma das ideologias vigentes,
Está
perdendo a noção do que é ser gente.
Pode-se
chamar de idiota ou de inocente?
Talvez
de inconsequente, ou demente?
E
o mundo que os aguente, dementes,
Até
que a explosão da loucura contida,
Por
um fiapo remendado, mal costurado,
Do
que se acostumou a chamar de vida
Lance
seus estilhaços sobre inocentes,
E
manche de sangue as páginas dos jornais mais influentes,
E
mostre corpos despedaçados
Como
se não pertencessem a um ser humano
E
pudessem ser expostos como em uma vitrine ou na rua
Para
que as pessoas admirem, deleitem-se,
E
se acostumem com a violência gratuita
Que
inunda as ruas e mostra a verdade nua e crua.
Uma
esquizofrenia social, anormal, amoral,
Que
se abateu sobre mentes enfraquecidas,
Destituídas
de senso de julgamento, seres patológicos
Que
perderam o escasso juízo,
E
tornaram-se parte de um experimento
Que
criou uma doença social chamada depressão,
Sem
sintomas externos, somente psicológicos,
Que
enriquece os grandes laboratórios
Com
a criação de drogas psicotrópicas,
Que
ao invés de aliviar os sintomas, potencializam-nos;
efeito
inverso e tão perverso!
Um
contingente de seres perdidos em seu próprio universo,
Adotando
um comportamento controverso,
Que
os exclui e os marginaliza, virando-os do avesso.
Infeliz
humanidade que agoniza na cegueira que a alienação visa.
Sem
o domínio da razão, sem nexo,
O
homem torna-se uma marionete do sistema,
Cada
vez mais complexo com seus intermináveis dilemas.
Gratidão, meu amigo, pela publicação. Que os abrolhos se multipliquem e tenhamos uma sociedade mais lúcida!
ResponderExcluirLindíssimo trabalho. Parabéns, poetis'amiga Cleusa
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